ZANZIBAR - O OUTRO LADO DA TANZANIA

Apesar das praias sobejamente conhecidas, Zanzibar tem um outro lado. Tem um lado cultural, um lado histórico, um lado pesado onde a presença dos Portugueses deixou marcas.

Stone Town

Esta velha Cidade da Pedra fica na confluência entre África e o Oceano Índico. Inicialmente uma vila piscatória, foi ao longo dos tempos dando origem a uma sociedade cosmopolita com um único estilo arquitectónico.
Beco da Cidade da Pedra
Seguindo o guia Ali, embrenhámo-nos nas ruelas sujas da Cidade da Pedra. Passámos pelo pobre mercado do peixe e pelo farto mercado das frutas e verduras.

Mercado do peixe
Mercado de frutas e legumes
Seguimos ruelas dentro observando cada comércio, cada hábito, cada transeunte.

Comércio tradicional
Comércio tradicional
Comércio tradicional
A cidade, apesar de fervilhante, transpira pobreza. A desorganização urbanística é algo que me choca. Tudo parece ter sido erguido sem contexto, sem linhas, sem sequência. Nasceram prédios, casas, becos como se de sementes ao vento se tratassem. Mas isto é cultura, é história e por isso em 2.000 foi classificada como "World Heritage Site".

Ruelas da Cidade
Beco da Cidade
Outro beco da Cidade
O povo, esse é simpático, mas as vestes muçulmanas conferem-lhes um ar pesado e triste. As mulheres, essas não se atrevem a revelar as suas formas e o preto é a cor dominante.  



Já com outro guia, penetrámos nas Masmorras da Escravatura. Sentimos como difícil foi a vida de escravo. Vimos onde viveram, como viveram, onde eram açoitados e como morreram. Ouvimos a história onde portugueses foram negociantes perversos e ingleses os salvadores do povo. Apesar de a história mundial nos referenciar sempre como o segundo povo a abolir a escravatura, o mundo, principalmente o africano, insiste em acusar-nos de comércio de escravos para o Brasil e para o mundo. Mas eram os árabes que os arrestavam! Eram os árabes que os expunham a olhares sujos e os vendiam conforme a sua robustez! Se a culpa fosse só nossa...

Já fora da masmorra, uma escultura de uma artista sueca (que me escapou o nome!), abana as nossas consciências.

Escultura que retrata o aprisionamento de escravos 
Com o sol a pique e um calor infernal, entrámos na Catedral de Cristo - Anglicana.

Catedral de Cristo e Mesquita 
Além do memorial a Livingstone, (o suposto salvador dos negros e grande lutador contra a escravatura!), salta à nossa vista algo impensável; pilares de colunas colocados ao contrário! Segundo reza a história, o Bispo Edward Steere, edificador dessa catedral, estava de férias aquando da construção e da chegada das ditas colunas. Como os trabalhadores não tinham instruções superiores, as colunas foram colocadas com a base para cima! Podemos imaginar a cara do Bispo Steere quando o detectou! O Bispo morreu de ataque cardíaco em 1882. Pudera!!

Colunas colocadas erradamente
Continuando ruelas dentro, visitámos The House of Wonders.
Este é o edificio mais emblemático da velha Stone Town. Foi desenhado por um marinheiro e engenheiro escocês e construído em 1883 pelo Sultão Barghash Bin Said.

The House of Wonders
Neste Museu Nacional, pudemos ler e ver explicações sobre as vivências do povo tanzaniano.

E devidamente protegidos em vitrinas, eis que surgem os legados portugueses. Vasco da Gama, chegou a estas paragens no final do século XV. Esta era uma importante costa para fornecimento de ouro e marfim, moeda de troca para as especiarias vindas da India. Aquando das escavações do velho forte foram encontradas moedas e peças de cerâmica, pertença nossa.

Poucos deverão saber que a nossa passagem por aquelas terras ensinou muito, deixou muitas palavras ainda hoje pronunciadas e principalmente enriqueceu a cultura daquele pobre povo. Há 59 palavras de influência portuguesa na língua Kiswahili:

Legado linguístico português
Também os jogos de cartas foram herança nossa. O Jogo da batota sempre presente no espírito português!

Existe, para grande alegria nossa, um Arco Português, que apesar de ser desconhecido dos guias turísticos, vem nos mapas e está lá, bem firme, mostrando ao mundo que nós, os grandes conquistadores, também passámos por ali.  

Arco Português
Mais tarde entrámos na Casa do Povo - People Palace

People Palace
As grandes pinturas de soberanos ingleses ofuscam os nossos olhos. Apesar de muito básico, foi interessante ver onde dormiam, onde comiam, onde se reuniam os reis ingleses quando visitavam a colónia.

Outro monumento que deve prender um pouco a nossa atenção é o Forte. Mais uma construção portuguesa! Depois de quase destruído pelos bombardeamentos ingleses, foi reconstruído pelos árabes e é a esses que se atribuiu a sua criação. É uma pena o estado português deixar morrer assim a nossa história e permitir que outros fiquem com os nossos louros.   

Forte de Stone Town
E como que por magia, em jeito de lufada, surge-nos o mar.

Oceano Indico, visto do Museu Nacional
A paisagem é bela e quase nos apaga a visão da pobreza que nas nossas costas existe.
As cores deste mar são fabulosas e os navios dão uma ideia de civilização e progresso. Este contraste é inesquecível.


Rota das Especiarias

As ervas nascem onde querem e são os conhecimentos humanos que as descobrem. Com um inglês possível mas pouco perceptível para nós, fomos palmilhando atrás do guia os quilómetros necessários para cheirar e ver os vários verdes.

Habitantes da "Rota das Especiarias"
Caminhando floresta dentro fomos escutando as explicações tradicionais do guia. Cada paragem, um cheiro diferente. A citrolena afugenta mosquitos, o gengibre trata doenças de estômago e intestinos, a noz moscada fortalece a virgindade feminina, a baunilha utiliza-se em perfumes e gelados, a pimenta pode ser vermelha, branca, preta ou verde, a raiz de canela tem mentol e é boa para as constipações e a papaia faz o "Gongo" que em Swahili significa "mocada", ou seja, é tão forte que quem bebe perde os sentidos de tanto álcool que ingere. Tudo isto e muito mais, passou pelo nosso tacto, olfacto e paladar. Menos o Gongo, completamente proibido pelo estado!

Jack fruit ( não consegui semelhanças!)
Depois de uma demonstração de como se sobe a uma palmeira e se apanha um coco, foram-nos ofertados chapéus, gravatas e cestos, tudo feito com folha de palmeira.

Subida ao coqueiro
Coco saboroso
Mais à frente e à nossa espera um belo banquete de frutos que nos refrescaram e mataram a fome matinal. Lichies, bananas, ananás, laranja selvagem e jack fruit foram alguns dos frutos apresentados. E finalmente uma bela banca de especiarias já ensacadas, onde podíamos gastar os dólares!

Confesso que esperava uma coisa diferente. Esta não foi seguramente a rota das especiarias que estudei na escola. Mas valeu por ser diferente, cheirosa e saborosa.
  

The Rocks

Certa manhã e aceitando o convite de um casal de portugueses igualmente hospedados no lodge, decidimos apanhar o dala-dala e deslocarmo-nos a outra praia.  Apesar do tempo nublado e as cores mortas do mar, o restaurante assente na rocha era algo surpreendente. Três maravilhosos sumos de frutas naturais e o aparecimento do sol, fizeram as nossas delícias. Os "Massai" também apareceram para nos saudar. 

The Rock - restaurante
Massai
E assim se passaram oito dias entre momentos de lazer na fabulosa praia e enriquecimento da mente. O belíssimo e o paupérrimo ensinaram-nos como podem conviver pacificamente, fazendo do povo de Zanzibar, o mais amistoso e simpático por nós conhecido. 

"Kwaheri" (adeus!)

CSD 




Comentários

  1. Mais uma viagem extraordinária para relatares aos teus netos...
    Beijinhos.
    MATS

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  2. O que tu aprendes nessas terras!
    Beijinhos e continua a manter-nos informados sobre as tuas viagens maravilhosas.

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  3. Jambo bwana!
    Que bom reviver Zanzibar!
    Passámos pelos mesmos sítios que nos despertaram sensações às vezes diferentes, outras iguais.
    Acho que gostarias de ter conhecido o Bernardo, moçambicano com a sua loja de quadros no centro de Stone Town.
    E, será da minha imaginação ou reconheço o rapazinho Suleman, de t-shirt azul no Spice Tour?
    Concordo que o povo de Zanzibar é dos mais simpáticos que tenho conhecido. Uma ilha onde quero voltar!!!

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