CARNAVAL, QUAL CARNAVAL?

Dizem que a vida são dois dias e o Carnaval são três.

Confesso que não sou adepta do Carnaval. Nunca o fui e mesmo nos meus tempo de criança, os disfarces  nunca me motivaram. Se ainda posso confiar na minha memória, recordo que tive unicamente três verdadeiros disfarces: bobo, sevilhana e borboleta. Os outros, coisas inventadas e sem identidade. Talvez seja do mês de Fevereiro, frio e incerto, talvez por ser tempo de férias e a minha condição de única não encontrasse companhia para a folia, o certo é que as serpentinas e os papelinhos chegavam para o meu Carnaval. Por outro lado, sei que sempre fui muito senhora da minha identidade. Revelar em 3 dias o que se esconde o ano inteiro ou aspirar a transformar-me em alguém que nunca seria, foi algo que nunca me seduziu. 

Mas esta industria poderosa de faz de conta, que move milhões de euros, não existe em Moçambique. Aqui o Carnaval não se mostra. As crianças não se metamorfoseiam, os crescidos não trocam de identidade, os carros alegóricos não se constroem e o povo não adere. Aqui não há nada a preparar com antecedência, não há escolas de dança de moças despidas, nem desfiles ensaiados, nem sátiras a políticos ou ao governo. A liberdade aqui tem limites. A crise que os moçambicanos vivem não é de agora, mas ao invés de se queixarem, arregaçam as mangas e lutam para sobreviver. Valeria de alguma coisa fingir de Palhaço Rico ou Rei? As máscaras que usariam seriam as de sempre. Aquelas que vestem, rasgadas e sujas mas que ainda tapam as vergonhas do ser humano. Os bailaricos existem sim, nos bairros mais castiços da cidade, mas cada um leva a sua personalidade, a roupa sedutora que usa nos outros 362 dias do ano.  E em algumas escolas até se faz a festa, mas com o que existe, com o que as famílias podem arranjar.  As crianças ainda são as que sonham com os super heróis e com as princesas. Esta ainda é a fase do conto de fadas. 

E porquê? Porque é que não damos pelo Carnaval? 
Porque aqui não há dinheiro para brincar, fingir, deitar fora. Cada metical é suado e aqui o Carnaval não dá retorno. Depressa passam os três dias e a mascara dura da vida faz-se sentir. 

Mas, o Carnaval faz falta?
O moçambicano não necessita de motivos para dançar, para foliar. A vida é um corso de penúria e sacrifício, mas no corpo existe uma alegria que nem as maiores agruras da vida conseguem apagar. 

Quem conhece, sabe que há Carnaval todos os Domingos lá para os lados da Costa do Sol.

CSD

Comentários

  1. Carnaval!... Não dei por ele...
    Que belas palavras...
    Beijinhos
    MATS

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