O Instituto do Coração é uma unidade de cuidados relativamente recente. O seu cariz particular confere-lhe outro estatuto e outra competência. Os apoios de associações e empresas particulares e internacionais também têm sido muitos. O pessoal é qualificado e os médicos abarcam todas as especialidades. Aqui há do melhor e até se fazem alguns milagres.
Mas desta vez, esta equipa de cardiologia teve uma ajuda valente. Durante uma semana, 14 médicos suíços deslocaram-se às instalações do ICOR para operaram cerca de 23 crianças carenciadas que necessitavam de uma intervenção ao coração. Com eles veio o contentor e os meios necessários para cada caso, e no coração muita vontade em ajudar. Foi uma maratona voluntária de sucessos.
A salinha das brincadeiras é pequena mas tem tudo o que faz de uma criança, feliz. Uma mesa ao centro, várias cadeiras, uma estante com livros e claro, brinquedos. Divididas por três enfermarias foram arregalando os olhos à nossa entrada. Não é comum verem visitas assim. Muitos têm só a mãe por companhia. Passados aqueles primeiros instantes de admiração, foram aceitando o nosso convite para pintar e desenhar. O espanto e a vergonha deram lugar a alguns sorrisos quando em cima da mesa foi colocado algum material escolar, daquele novinho em folha que veio no contentor oferecido por instituições portuguesas.
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Sala das brincadeiras |
As idades são variadas e os problemas também. O Rafael tem 11 anos e é de Inhambane, a Ivone tem 9 e veio da Beira. Os mais pequenos rondam os 3 e os 5 anos e são de Maputo. Ao todo, perto de 10 crianças que durante uma tarde nos mostraram a força da vida.
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Os meninos e as voluntárias |
Com os seus uniformes hospitalares azuis ou verdes, de lápis de cor na mão pequena, sentadinhos nas cadeiras coloridas, foram desenhando aquilo que o seus corações sonham. Na folha A4 da Iunes de 6 anos começaram a aparecer as tias de vestidos compridos e as noivas e os meninos nas camas do hospital e mais o machimbombo que leva todos ao casamento. As cores eram vivas e alegres anunciando um final feliz.
O Naíme de 8 anos anda na escola da Liga Muçulmana. Prefere pintar a desenhar e ficou contente com o livro oferecido. Apesar da sua magreza e palidez, conversa muito e tem esperança de poder sair rapidamente. O mais sisudo, o Marcelo tem só 3 anos e agarrado à mãe e ao urso, pasma-se com a fotografia tirada. Reconhece-se, mas não acredita! A Kaylane de 3 anos, a Jéssica de 5 anos, o Horácio de 6 anos, a Nédia de 11, todos nos fizeram companhia. A Assessa de 4 anos ainda não está bem e por isso não pode juntar-se ao grupo. No colo da mãe sofre ainda os efeitos da operação. O oxigénio é um bom amigo. A sua recuperação é mais lenta mas a esperança e a fé da mãe dão-lhes força para acreditar num futuro melhor.
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Marcelo de 3 anos e o irmão de 6 meses |
As horas foram passando sem se notar. Vê-los pintar e desenhar é um consolo para a nossa alma. Poder proporcionar alguns momentos de distracção e alegria sabe muito bem. E na altura de oferecer os chapéus? O escolhido não mais saiu das cabeças coroadas e todos quiseram ver-se na fotografia.
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Oferta de chapéus |
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A Ivone de 9 anos e o seu chapéu |
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O Rafael de 11 anos e o seu chapéu |
Após os momentos menos bons, puderam estas crianças brincar e conviver com caras novas durante uma tarde. As cicatrizes, já quase saradas são ainda visíveis nos seus peitinhos macios, mas nos lábios começam a surgir os sorrisos de uma vida melhor.
Este foi o propósito da nossa primeira visita a este hospital, que esperamos ser para continuar.
CSD
Viver e ajudar os outros é magnífico...
ResponderEliminarParabéns.
Um forte abraço