O INÍCIO DE TUDO

Nós somos assim: os nómadas dos novos tempos.

Não são as monções, nem as neves, nem as secas, ou os prados verdes que nos obrigam a mudar de sítio. São os compromissos dos nossos novos tempos que nos impelam a partir. É a representação nacional e o dever patriótico que nos obriga a distanciar de tudo o que nos é mais querido. Deixamos a terra, a casa, a família, os amigos, as vivências passadas, as cores, os cheiros, os hábitos e partimos rumo ao quase desconhecido. Recolhemos os nossos haveres e rumamos em busca de lugares mais “favoráveis”. São viagens longas, por vezes demasiado longas que nos obrigam a pernoitar em paragens ainda mais desconhecidas que o nosso próprio destino. Não montamos acampamento, mas também nós temos de nos habituar a mais um leito, um tecto.

A chegada é sempre um misto de curiosidade e incerteza. Não definimos território, mas escolhemos o lar onde iremos passar o nosso tempo futuro, não percorremos caminhos á procura de água, mas inteiramo-nos da qualidade da que já existe, não abrimos roços para colhemos raízes mas procuramos de imediato os locais onde poderemos saciar as nossos necessidades básicas, não reunimos as cabeças de gado, mas tentamos sempre conseguir a segurança máxima para as nossas famílias. Só a bandeira é sempre colocada á entrada da nossa porta. Nunca, por mais longe que estejamos do nosso território, esquecemos as nossas origens. As cores do nosso país estão sempre presentes em cada dia distante.

Esta “profissão” é sempre um novo começar, um novo início de vida. Conhecer o povo que nos acolhe, o clima, a segurança, as ofertas, as regras de vida e de conduta moral, deverá ser sempre a nossa prioridade. É o assimilar de tudo isto que nos permite a integração completa neste novo território e com o novo povo. São normalmente estadias longas cuja avaliação se resume em amor ou ódio. Compete-nos a obrigação de acolher e saber respeitar tudo o que não é nosso.

Mas estes nómadas dos novos tempos têm sempre presente o regresso. Regressaremos um dia ao nosso território, após cumprido o nosso dever patriótico. É esse regresso que nos mantém vivos, confiantes, crentes. Desta vez a viagem será rumo á terra já conhecida. A cada regresso encontramo-la diferente, mudada, crescida. Há novamente um montar de vida, um erguer de bandeira.

O espírito nómada é algo que se entranha. É um misto de partir e regressar, descobrir e assentar, aprender e já saber.

Sejamos nómadas fora de portas e sedentários dentro de nós próprios e toda a nossa existência será equilibrada e honesta.

CSD

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