GRANADA

Alhambra vista de Miradouro em Albacín

Começámos o dia com um pequeno almoço na "Confeitaria Lisboa" na Rua dos Reys Católicos, perto da Plaza Nueva. Um serviço lento, um corre corre de gente e um preço absurdo. Enfim, os sacrifícios em prol da saudade! Menos confortados do que o desejado avançámos para o tour 
pela cidade, com ponto de encontro na Plaza Isabel a Católica. Estes percursos a pé são um programa que se tornou habitual para quem quer desbravar cada esquina. Fomos "Feel the City" com a Elena num castelhano acelerado e muito expressivo. A rapariga falava pelos cotovelos!

Plaza Isabel Católica

O centro antigo da cidade de Granada é um labirinto de ruas e ruelas onde é fácil perder-nos. Em passo apressado lá fomos tentando perceber a aura daquela cidade de inúmeras influências. A primeira paragem foi no Corral de Carbón, uma pérola do século XIV que ainda hoje mantém a traça original devido a várias intervenções de conservação. É um edifício público datado de 1336 outrora utilizado para dar abrigo a comerciantes e mercadorias durante as travessias mercantis. Posicionado estrategicamente foi ponto importante durante os períodos de zirida e nacérida. 

Alhóndiga de 1336

O caminho faz-se caminhando e lá seguimos as explicações da guia espirituosa. Nas ruas mais estreitas apetecia parar e feirar. Este mundo mouro, árabe, diferente e berrante tem qualquer coisa que cativa as mulheres. Este souk andaluz faz maravilhas na minha alma! Mas o tempo é contado e o marido não abranda o passo! Move it! Voltarei!

Alcaicería - antigo mercado de seda

E eis que aparece a Catedral de Granada. Metida num largo situado na Calle Grand Vía de Colón a Igreja Catedral Metropolitana da Encarnação é austera e simétrica e pertence à época do renascimento espanhol. 

Fachada da Catedral de Granada

A partir de 1492, Granada passa a ser mais cristã com o assumir dos reis católicos. O grande projecto real pensado para a cidade passaria pela construção de uma grande Catedral gótica e por uma Capela Real condigna para receber os restos mortais dos monarcas. Com o falecimento inesperado da Rainha em 1504 foi acelerada a construção da Capela Real e atrasado o início da Catedral. Nasce assim pela mão do arquitecto Siloé uma majestosa Catedral Renascentista concluída em 1704. Valeu a pena esperar!

Altar superior da Catedral de Granada

O seu interior é faustoso, apaziguador apesar do frenesim de turistas e passos compassados. Com o guia auricular a debitar história e pormenores por vezes entediantes, fomos seguindo os números identificativos e absorvendo o possível de cabeça no ar e pescoço a girar.

Interior da Catedral de Granada

Construída por Enrique Egas de 1506 a 1521, a Capela Real alberga os restos mortais dos Reis Católicos, grandes percursores da união entre povos. Durante o seu reinado uniram Granada à Coroa de Castela e iniciaram a aliança entre os povos de Espanha, Portugal, Inglaterra, Países Baixos, Borgonha, Áustria e América. Têm por tudo isso um lugar de destaque em Espanha e no mundo.  

Capilla Real

Túmulos Reis Católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castilha

O almoço foi no "Manuel", com a sempre dificuldade na escolha das tapas. Parece que é sempre pouco! Já por conta própria foi a nossa vez de explorarmos Granada. Voltámos à Plaza Nuova iniciámos o Passeo de Los Tristes, antigo trilho de procissões fúnebres com destino ao cemitério. Este quelho de triste nada tem! No início do caminho empedrado fica a praça de Santa Ana e a Igreja de San Gil e Santa Ana. Uma igreja única que combina aspectos cristãos e islâmicos. O actual campanário era o minarete de uma antiga mesquita que quando reconstruída foi presenteada com uma cruz. 

Igreja de San Gil e Santa Ana

Interior da Igreja de São Gil e Santa Ana

E ao longo do Passeo dos Tristes fomos tentando caminhar sempre rodeados de um mar de gente. Tanto turista valha-me Deus! E as notícias do Covid-19 já andavam por Espanha! A ruela é estreita e apesar de pedonal, há circulação automóvel para mal dos nossos pecados! O rio Darro vai fazendo o seu percurso, sem estorvo, também ele entalado entre a colina de Albaicín e o majestoso Alhambra. 

Igreja de San Pedro e San Paulo

Mais à frente a Igreja de São Pedro e São Paulo onde nos pediram 5€ para subir à torre! Para ver o quê? Seguimos caminho pois teriamos mais vistas deslumbrantes à nossa espera. E quase no final do "passeo" um largo harmonioso que convida ao descanso e onde a cultura andaluz se faz ouvir e ver.  



Albacín era outro destino a não perder e mais um tour desta feita com guia Jorge. Rapaz para os seus 30 anos, extremamente conhecedor e amante da herança árabe, guiou-nos pelos caminhos colina acima, numa viagem andaluz a lembrar a nossa Alfama ou Bairro Alto. Os caminhos são acidentados mas entre explicações surpreendentes e paragens estratégicas, fomos conhecendo Albacín. O fascínio dele contagia-nos. As curiosidades surpreendem. Gostei.

Alhambra vista das ruas de Albacín

A cada espreitar de esquina ela aparece no seu esplendor. Alhambra é imensa e presente, quer queiramos quer não. Nestas ruas há semelhanças constantes. Portas árabes, varandas enfeitadas, patamares floridos, azulejos pintados numa frescura surpreendente. O Miradouro de San Nicolas é único para quem deseja um horizonte profundo. 

Alhambra visto do Miradouro de San Nicolas em Albacín

Depois de uma descida acentuada e com o entardecer já longo, jantámos no "Los Diamantes", atulhado de turistas das mais variadas nacionalidades. É engraçado observar os asiáticos à toa! A alvorada decretaria o último dia em Granada. 

Os dias continuavam bons e a temperatura agradável para fim de Fevereiro. Reservámos o último dia para os Mosteiros mais afastados do centro da cidade de Granada. Apanhámos o bus e apeamo-nos no Mosteiro de San Jerónimo, exemplar arquitectónico do Renascimento e cuja igreja foi o primeiro templo consagrado à Imaculada Conceição. Pelas mãos de vários arquitectos nasce em 1504 esta obra robusta, de ar pesado mas que no interior esconde uma pérola de paz. Foi o primeiro mosteiro cristão construído após a reconquista de Granada pelos Reis Católicos. O pátio interior pejado de arcadas e laranjeiras dão aquela paz e tranquilidade às freiras reclusas que lá habitam actualmente. A invasão napoleónica expulsou a ordem dos Jerónimos, ocupou e destruiu parte do edifício convertendo-o em quartel general. Tem sido ultimamente alvo de vários trabalhos de recuperação. E bem merece. 

Real Mosteiro de San Jerónimo
Interior do Real Mosteiro de San Jerónimo

Altar Mor e cúpula

Interior do Real Mosteiro de san Jerónimo

Arcadas e laranjais no interior

Mais além, o Mosteiro da Cartuja ou Mosteiro Real de Nossa Senhora da Assunção que fica a dois quilómetros do centro de Granada. A sua construção data do século XVI e a fachada nada nos diz. A traça barroca é simplória e fria, embora também seja perceptível influências renascentistas e do gótico tardio. A escadaria em pirâmide conduz-nos ao seu interior. Este é um exemplo perfeito de "quem vê caras, não vê corações". Esta o
bra Barroca sufoca quem lá entra.  

Mosteiro da Cartuja

A decoração interior é diversa e deambula entre frescos, pinturas, esculturas, abóbadas, madeiras policromáticas e um infindável número de técnicas artísticas. É avassalador! O pormenor de cada recanto, cada coluna, cada espaço é indescritível. A nossa pequenez é posta à prova perante tal magnitude. 

Altar da Igreja de Assunção

Nave central da Igreja de assunção

Interior da Igreja da Cartuja

A igreja, a capela e a sacristia são refúgios fervilhantes de emoções. Qualquer que seja a influência arquitectónica, este é um espaço que desconcentra a nossa fé. Impossível ter um momento de recolhimento quando o redor nos assalta com a história. 

Sacristia Barroca

Frescos maravilhosos da sacristia mais bela do mundo

Depois de um almoçinho rápido no "La Cueva" embrenhámo-nos novamente nas ruas estreitas e pejadas de turistas até chegarmos à La Casa De Los Tiros. Foi edificado entre 1530 e 1540. Sendo parte da muralha do Bairro de Alfareros, este museu deve o seu nome aos canhões que fazem parte das vigias situadas no topo do edifício, aberturas pelas quais se fazia o ataque ao inimigo. Destaca-se pelo aspecto de fortaleza militar.  

Fachada do Museo Casa De los Tiros

Só o torreão se conserva desses tempos de defesa. Hoje, propriedade do estado, serve como museu de arte tauromática albergando a biblioteca e outras singularidades estranhas como o seu tecto em talha dourada com representações mitológicas e medievais. Salvou-se o dragão... apesar de verde!    

Tecto em talha dourada

Interior do Museu Casa De Los Tiros


E seguiu-se a Abadia de Sacromonte lá no alto do monte de Valparaíso. Este "Bem de Interesse Cultural" foi construído nos séculos XVII e XVIII e contém três importantes divisões; o Colégio Velho de San Dionísio, o Colégio Novo e as Santas Cuevas. 

Abadia de Sacromonte

Reza a lenda que nestas Santas Cuevas (masmorras) foi martirizado San Cecílio, o primeiro bispo de Granada e os seus dois varões apostólicos evangelizadores de Hispânia Romana. A Abadia terá sido construída após terem sido descobertas placas de chumbo  (livros plumbeos) com inscrições em árabe relatando o martírio de San Cecílio, bem como um forno com cinzas humanas. Apesar do impacto e crença que este acontecimento trouxe à cidade, foram declarados estes achados como falsos no concílio em 1682, pelo Papa Inocêncio X.    

Fachada da Abadia

Interior da Abadia de Sacromonte

E assim se termina uma viagem cheia de surpresas, história, semelhanças e curiosidades. Espanha é sem qualquer sombra de dúvida um pais maravilhoso e irmão. E tanto h+a para descobrir.




CSD



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