A ESCOVAGEM DA REFLEXÃO
Um conto realmente português.
Sábado foi dia de reflexão. Situações há que quanto mais se pensa, pior é!
Mas aqui não se tratava bem de pensar ou reflectir, mas sim de acreditar e confiar.
Sábado foi dia de reflexão. Situações há que quanto mais se pensa, pior é!
Mas aqui não se tratava bem de pensar ou reflectir, mas sim de acreditar e confiar.
Fazendo um esforço de memória matinal neste dia solarengo de reflexão, e enquanto lavava os seus dentes, o Zé percebeu que não tinha ficado verdadeiramente elucidado. Os meses em que escutou as prelecções dos lideres não foram afinal, suficientemente esclarecedores.
"Tantas palavras, tantos discursos, tanta léria e ele, Zé, não percebeu nada!?"
"Tanta empolgação, tanto discurso aceso, tanto dedo no ar, tanta pinga de suor e ele Zé, que teve de os aturar durante os longos telejornais, não conseguiu decidir-se!?"
Olhando-se fixamente no espelho não vislumbrou burrice nem surdez nem obtusidade naquele que olhava para si! Só mesmo uma barba a pedir para ser feita! A falha não deveria, por isso, ser sua! A culpa era provavelmente de tanto diálogo!
Escovando à esquerda, sentiu que esquerdo já andava há muito, ele e todos os outros Zés Tugas. Afinal de contas, elas as ditas, já andavam gordas e não era de agora, os bolsos também já chupadinhos há muito e a Maria, cada vez mais queixosa da gestão doméstica.
"Parece impossível Zé, as coisas aumentam de dia para dia. Não sei onde isto vai parar! Havemos de ter de roubar para comer! Ele é o pão, o leite, a farinha, ontem até as cebolas já estavam mais caras! Não sei mas qualquer dia destes vou aos caixotes de lixo dos superes como os mendigos! Vê tu que a batata nacional está mais cara que a estrangeira. Como é que pode ser? Como querem que a gente coma nacional? Era bom era, mas só para tu veres a ..... "
O Zé abanou a cabeça como que a enxotar do pensamento aquele discurso obsessivo. Continuando a escovagem pensou que também ele tinha as suas queixas. Também ele tinha direito a desabafar. Afinal a gestão da sua frota singular era da sua alçada. Era sua responsabilidade cuidar do veículo! E alimentar aquele animal custava-lhe os olhos da cara. Essa é que era a verdade. E por pensar em alimentar.....
"E agora a crise nos pepinos? Isto está bonito, está! Olha este ano as sardinhas não vão saber ao mesmo, ai não não! Mas eu não os vou comprar! Comem-se pimentos e é um pau! Só me faltava agora morrer da bactéria! E eles que não sabem de onde vem? Deve ser da ......"
Voltou a abanar a cabeça e mudou a escova de direcção. "Irra, que ela é chata!"
Ao escovar à direita também não sentiu grandes mudanças.
As culpas nunca morreram solteiras e foram sempre dos outros. O programa pelos vistos foi muito pormenorizado, mas ele, Zé, nem o cheirou! Pouca esperança ao largo, nenhuma lufada de optimismo, muitos avisos à navegação foi o que pingou daquele lado da campanha. "Muita parra e pouca uva, é o que é!", pensou entre cuspidelas. Afinal, diferentemente igual!
Esta ambiguidade de ideias nesta manhã importante seria da escova, que já estava também a necessitar de mudança? Ou era da pasta que por ter "monofluorophosphato" lhe estava a mentolar em demasia o pensamento? Após o gorgolejar, seguiu-se o cuspir e já estava. Com um hálito fresquinho as ideias iam seguramente aflorar-lhe ao seu cérebro. Iria decidir.
E a primeira decisão foi: tinha é de se preparar para ver a bola! Isso sim, assunto de extrema importância. Ser o comandante do grupo H é o "target". O apuramento rumo ao europeu 2012 não podia falhar. E a bacalhoada norueguesa que se pusesse a pau!!! O Manel e o Quim já estavam convidados. Logo o Manel trazia as bejecas e Quim os tremoços. Sim, que a Maria disse logo que não estava para encher a pança a preguiçosos! Mas um homem nem tem fome quando joga a nossa selecção!!!
E o logo chegou e com cachecol, impropérios e muita táctica, estes três homens assistiram refastelados a um jogo de paciência. Bejeca a baixo, bejeca a cima e ao minuto 53, GOOOOOOOLO do Postiga. Jordão estava igualado! Agora sim, felizes e contentes, galvanizados e inchados. Somos os maiores!
Nas despedidas a consciência do Zé falou mais alto. Tal qual os Homens da Luta, o Zé não esqueceu as obrigações.
Nas despedidas a consciência do Zé falou mais alto. Tal qual os Homens da Luta, o Zé não esqueceu as obrigações.
Zé: "Companheiros, amanhã Domingo, depois do almoçinho na sogra vamos lá deitar o voto, ok? Nada de desculpas! Já sabem onde é a vossa urna?"
Manel: "A minha é no Alto de São João! É para lá que tem ido toda a família! E não é urna, é jazigo!"
Zé: "Não sejas parvo, pá!" Temos de votar para eleger e mudar isto pá! Isto está mau...!"
Quim: Eu vou votar no Partido pela Natureza e pelos Animais. Pelo menos esses não enganam, são fieis e leais!"
Zé: É pá, vota lá onde quiseres, mas exerce, pá, exerce!"
CSD
Como sempre!!!!! perfeito, uma delicia
ResponderEliminarBjs
Celia
E foi o que eu fiz:fui votar e não fui só...
ResponderEliminarBeijocas
MATS