CURIOSIDADES MOÇAMBICANAS

Um ano já passou e com ele muita coisa nova, vista e aprendida.

Muitas são as especificidades moçambicanas às quais definitivamente não nos habituamos, mas outras de tão funcionais que são, o nosso “animal de hábitos” depressa as interioriza.

Imaginemos uma simples ida ao café na cidade das acácias e dos "Maputenses" (habitantes de Maputo). 


Logo à saída do nosso prédio o “Bom dia, obrigado” ou somente "obrigado", é um cumprimento dito e escutado vezes sem conta ao longo do caminho. Mais à frente, o homem dos dvd’s faz-nos a habitual espera para “tem nóvidade, Mãe!” “Mãe” é sem duvida um apelo escutado por todas as mulheres de raça branca ou negra. Quando se trata de um “Molungo” (patrão branco), é “Patrão”. As mulheres negras mais velhas são “Mamãs” e os homens “Papás”. "Bom dia, Boss" também é ocasionalmente utilizado. Ainda fresco o “não obrigada” anterior, logo aparece o rapaz dos amendoins, para numa frase rápida dizer “fresquinho, mãe, acabado de tórrar. É bom, Mãe”. Compram-se 10 meticais com "bácéla" (mais uns quantos amendoins de oferta). 

Mais uns passitos dados e cumprimenta-se o homem das frutas e legumes na sua "báraca" (banca). "Não vai nada hoje, Sinhóra? Tem papaia boa e espinafre". Se procurarmos, por exemplo, coentros e não houver, "não têm" ou "aííínda" significa que não terá nesse dia ou ainda não chegou. A "machamba" é a horta ou quinta da qual vêm os produtos frutícolas e hortícolas moçambicanos.

Banca de Fruta e legumes na Av. Julius Nyerere
Entrados finalmente no café para o "mata bicho" e após feito o pedido do "sumo di mistúra", aparece à janela o rapaz dos jornais, o do tabaco, o dos colares e pulseiras, o das capulanas e a mulher da castanha (de caju). O dos óculos vem logo atrás, seguido pelo dos relógios, do artesanato, das blusas, dos cabides e das malas. A tudo se diz um "não obrigada" educado. Mas por vezes, eles não desistem facilmente! Se calha algo interessar nesse dia, chama-se o moço e inicia-se uma conversa de negócio. "Bom préço, Mãe" e "préço d' amigo" são as palavras para convencer o cliente. Frequente neste tipo de negociata é "hum!" que corresponde ao nosso "sim". E esta expressão é das que mais se interioriza! Quando o pedido do sumo se atrasa, o empregado interpelado diz "está a vir" ou "há-de vir", o que para nós representa futuro, mas para eles é já a seguir. O pagamento faz-se em meticais, mas na boca do povo o "conto", "paus" ou "tako" ainda é muito utilizado. A nossa "gorjeta", sempre muito aguardada, é "réfresco".

Iniciado o regresso a casa pelas ruas cheias de "búrracos", muitos são os que tentam a sua sorte de mão estendida. "Tenho fome, Mãe" ou "só prá ajudá", são frases frequentemente ouvidas. Com metade do caminho percorrido, passa o carrinho de mão e escuta-se um "Sinhóra, pricisa ananás, tomate, bánana?". Entramos na padaria e se nos descuidarmos, ficamos no fim da fila!. Para facilitar o troco, "tôu a pidi cinco conto". Esta expressão "tôu a pidi" significa "por favor".  "Kanimambo" é o nosso "obrigado".

Mas há mais.
"Maningue" é "muito"  e "andar fora" é ser "mulherengo". Infelizmente Moçambique regista  ìndices elevados de HIV Sida e uma das grandes apostas do governo é o slogan "Andar fora, é maningue arriscado". O "jeitO" é o preservativo mais propagandeado pelo país, dando origem a slogans muito criativos!. 


Os "Chápa 100" ou "Machibombo", transportes públicos conduzidos  pelos "chapeiros", são utilizados diariamente pela população nos percursos dentro e fora da cidade. Cinco meticais é o valor exigido pelo "cóbrador" (profissão já extinta em Portugal). Se a corrida não está a ser lucrativa, "despejam-se" os passageiros a meio do trajecto e logo se dá a volta para ir buscar mais, no sentido contrário. 
Chapa 100

O "Tuk-Tuk" ou "Cocos taxi" é outro meio de transporte muito utilizado na cidade. Uma espécie de triciclo que é funcional e barato e muito solicitado por locais e comunidade internacional. Paga-se ao quilómetro. Vamos "láá" ou simplesmente "pra láá", serve muitas vezes como sentido de orientação.
Cocos taxi

"Afínal!" é uma conclusão esperada. "Não é!?" é uma concordância. "Fazer o quê?" é a resignação. "Desconseguir" traduz o insucesso. "ish yowé!" é uma exclamação (sem margem para qualquer dúvida) e pode ser aplicável a várias situações. Pode significar "ápre!", "tshi!", "uau!" ou "ena!".

Outra das curiosidades são os anúncios e proibições que são afixados nas muitas paredes desta cidade. 
Facto por mim constatado por diversas vezes, foi a falta de decoro na hora de aliviar as necessidades fisiológicas. Os homens negros são os campeões do regadio. Actuam como se sozinhos se encontrassem. Por vezes, o cheiro característico aliado ao calor excessivo, sente-se à distância. Daí a necessidade de se avisarem as populações.
Anúncio numa rua da capital
Característica conhecida deste povo é a alegria que, quando acompanhada da bebida, origina avisos como o que se segue.
A "Laurentina preta ou branca" ou a "2M"  ("Mac Mahon"), mais a "Tentação" e a "Amarula" são bebidas muito apreciadas e conduzem os moçambicanos a excessos por vezes graves.
Anúncio à entrada do Museu de História Natural
Ao fim de semana é vê-los na Av. da Marginal, para os lados do Bairro do Triunfo até à Costa do Sol, de frente para o mar, nos seus caros equipados com potentes colunas, a dar música a todos os que por ali passeiam. O frango e o carapau assados, as salsichas grelhadas, as chamuças e os rissóis mais os "biscóito" e o pão, não faltam neste grande piquenique à beira mar.
Av. Marginal - Domingo à tarde

Beber e dançar é quase tão importante como respirar. Este é um dos "desportos" de eleição da população mais jovem. Depois da festa muitos ficam "incómudados", ou seja, mal dispostos ou doentes.
Av. da Marginal
O telemóvel, é outra curiosidade.  Independentemente do seu estrato social, cada moçambicano ostenta o seu telemóvel com grande orgulho. "Crédito" é a recarga que possibilita as chamadas. "Mcel" ou "Vodacom" são as duas grandes operadoras de Moçambique.
 
Muitas são as expressões que nos vão ficando registadas na memória. Mas a mais original é sem dúvida "falta pouco para quase". É fabulosa.

"Tamos juntos". Sempe amigos e unidos nesta luta da vida.  


CSD

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