VILANKULO E BAZARUTO

Aproveitando as mini férias da Páscoa de 2010, realizámos mais um passeio por este país fantástico e surpreendente. O destino desta vez foi no sentido norte, á descoberta da província de Inhambane, mais concretamente a cidade de Vilankulo e o Arquipélago de Bazaruto.

Inhambane é uma província extensa que vai do Quissico a Nova Mambone. Tem como províncias vizinhas Gaza, Manica e Sofala. Ao nível da vegetação e interesses turísticos é das províncias mais heterogenias e mais desenvolvidas. Aqui encontramos praias extensas de areia branca que se perdem no horizonte, centenas de coqueiros que lembram os destinos paradisíacos famosos e tesouros submarinos para quem gosta de explorar o fundo deste Oceano Indico quente e manso.

A partida foi sábado muito cedo. 5 horas da manhã foi a hora estipulada para o início da maratona, uma vez que tínhamos pela frente uma longa viagem de 800 km.
Grupo reunido, carros equipados e lá partimos ainda noite escura em direcção ao norte. Muitas foram as localidades que se foram revelando à medida que o sol despontava para mais um dia quente. Zimpeto, Marracuene, Manhiça, Macia e finalmente Xai-Xai. Parámos para esticar as pernas, pois um quarto do caminho já estava feito.

Com muita vontade de chegar, deixámos Xai-Xai para trás, já mais aliviados e alimentados. A estrada de alcatrão também por lá ficou. Seguiram-se 90 quilómetros que testaram a nossa resistência corporal bem como a habilidade dos nossos condutores. Uma única faixa de alcatrão ao centro da estrada, completamente esburacada, e duas faixas laterais em picada obrigaram os dorminhocos a acordar. A mestria dos nossos condutores não foi suficiente para evitar buracos imensos e o chocalhar dos nossos esqueletos. A primeira curiosidade surgiu mesmo ao longo da estrada: putos que ao pressentirem a nossa aproximação, davam início à tarefa árdua de, num curto espaço de tempo, tapar com terra os buracos menores. Todo este esforço em troca de moeda, claro!!!
Chegados a Chissibuca, voltámos a pisar estrada boa. O nosso esqueleto agradeceu! Muitos quilómetros se seguiram, muitas localidades passaram, estrada boa e má, algumas paragens e finalmente surgiu-nos a tão esperada placa: Vilankulo. 16 Horas marcava o meu relógio. Onze horas de viagem por este profundo Moçambique. Mas só assim é honesto dizer que se conhecem estas terras.

O alojamento que nos estava destinado, Nhafoud de seu nome, não correspondeu minimamente às nossas expectativas. Foi-nos recomendado em Maputo por alguém com gostos muito simples, demasiado simples!!. Deparámo-nos com um aldeamento muito fraco, composto por 6 casas, sem qualidade e sem higiene. Apesar da simpatia e prontidão do responsável, as coisas não correram bem. Muitas foram a queixas: casa degradada e suja, camas com areia, redes mosquiteiras esburacadas, toalhas insuficientes, falta de electricidade, falta de água quente, etc. Apesar de haver muitos locais onde ficar, as opções na altura eram poucas, uma vez que em época de Páscoa, tudo esgota e os preços dos lodges com qualidade são quase proibitivos. Conformámo-nos assim com duas casas pouco tradicionais cujos nomes conseguiram arrancar alguns sorrisos das nossas caras de desapontamento: Casa Branca e Casa Velha!

Instalámo-nos o melhor possível e partimos à exploração da praia. Inicialmente fomos para a direita, na única bifurcação existente na cidade de Vilankulo. Descobrimos uma praia longa mas estreita, muito suja e cheia de vestígios de grandes festas nocturnas. Decidimos então partir à descoberta do lado esquerdo. Como por magia começaram a revelar-se lodges com muito bom aspecto. Optámos por um lodge fantástico: Vilankulo Beach Lodge, sul africano, que apesar de estar lotado, permitiu-nos aceder à sua praia, praticamente privativa. Foi nesse quase paraíso que passamos os dias, só nos ausentando para dormir.

A praia, tal como se esperava, era simplesmente maravilhosa. Extensa e praticamente deserta, com areia branca e fina, água transparente, quente e calma, muitas conchas, búzios, caranguejos, enfim, tudo o que se pode esperar de um local soberbo.

Na terça-feira, e após merecido descanso, decidimos partir à descoberta de Bazaruto.
Bazaruto é um arquipélago composto por quatro ilhas: Santa Carolina, Bazaruto, Benguerra e Magaruque. Como o tempo não era muito, optámos por passar uma parte do dia em Bazaruto, deixando as outras ilhas para uma nova oportunidade.
Alugámos uma lancha e perto das 8 horas partimos mar dentro, conduzidos por dois locais, bem conhecedores destas lides. A viagem durou perto de 30 minutos.
A chegada a Bazaruto foi indescritível. A receber-nos uma baía de areia branquíssima e finíssima, rodeada por uma água quentíssima e muito transparente. Num dos lados o mar em todo o seu esplendor, no outro, corais maravilhosos. Com o aluguer do barco foi-nos proporcionado equipamento para fazer snorkling. Foi maravilhoso ver todos aqueles cardumes coloridos mesmo ali ao nosso lado. As crianças viveram seguramente uma das maiores emoções.

Mas há mais em Bazaruto. De costas para o mar surge-nos pela frente um conjunto de duas dunas enormes cuja visão é surpreendente. Após subida árdua onde se gastam perto de 20 minutos, o cume revela-nos algo impensável: lá no alto, entre o céu e a areia branca que pisamos, vemos á direita uma extensão de branco e recifes de corais, e á esquerda vegetação quase savana rodeada por água de um azul raiado a verde. São imagens que por muito fotografadas e filmadas que sejam, nunca vão transmitir aquilo que os nossos olhos vêm. Cabe à nossa memória guardar bem guardadas aquelas imagens do quase paraíso.
Claro que quem sobe tem de descer e acreditem que é outra aventura. A melhor maneira é a pique e com alguma velocidade. Foram horas maravilhosas aquelas passadas entre o mar, os corais e o toldo que os nossos marinheiros decidiram instalar na ilha.

Após exploração daquela zona, os nossos guias decidiram conduzir-nos até um recife mais afastado do arquipélago, em alto mar, onde pudemos fazer mais mergulho e observar corais, estrelas-do-mar e vários tipos de peixes, tudo muito belo. Estava decidido passar ainda pelo Índigo Bay, um lodge em Bazaruto, onde almoçaríamos, mas o nosso regresso teve de ser antecipado porque ao largo começou a formar-se uma grande tempestade. Trovões ameaçadores, mar de duas cores e um céu pesado e negro deram o alerta. Chegava a hora do regresso. E depressa!!

Pelo caminho e face á rápida aproximação da tempestade, tomamos a sensata decisão de acostar na Ilha de Benguerra, para almoçar. Como esta é uma ilha privada onde só entra quem tem reserva, foi-nos negado o almoço e tivemos de seguir viagem sempre com os olhos na tempestade.
Já em terra, abateu-se o que o céu avisava; chuva forte. Foi pena o encurtamento do passeio, mas mesmo assim foi muito agradável este dia que ficará inesquecível nas nossas memórias.

O dia seguinte foi de total usufruto do espaço do lodge sul-africano. Praia, piscina, restaurante e zonas de lazer.

Quarta-feira chegou, e o regresso também. Com muita pena despedimo-nos da praia e de tudo o que foi o nosso dia a dia.

Iniciámos a longa viagem de regresso, mais calados e mais pensativos pois são estas vivências que dão alento e esperança às nossas vidas por vezes cheias de nada.

CSD

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