BOLA CÚBICA
A bola é redonda, todos o sabemos, por isso supostamente não deveria ter lados. Mas tem-nos, e muitos.
Se olharmos bem, as bolas de hoje são sofisticadas, velozes, bonitas. Foram pensadas, estudadas, testadas, calibradas, pintadas. São trabalhadas por técnicos experientes durante anos de modo a atingir a perfeição. Tudo, para no momento certo, dar alegria àqueles que sofrem as emoções de um jogo de futebol.
Mas agora imaginemos uma bola cúbica.
Logo aqui teremos 6 lados e o seu desempenho bem diferente do habitual.
Vamos pensar sobre isto.
África do Sul é o país onde irá decorrer um dos eventos que move mais multidões; o campeonato do mundo de futebol de 2010. E Portugal estará lá.
Este é um país enorme e belo. Tem tanto de rico como de pobre. Fica muito longe do nosso Portugal. Não é uma terra qualquer. É uma terra africana carregada de uma história complicada. É a terra do Apartheid. Aqui o branco o e negro continuam a falar línguas diferentes, a ter objectivos separados. O branco dominou e quer dominar sempre. O negro sente o domínio e já não o suporta. As disparidades são grandes e visíveis. É uma luta constante por direitos de brancos e negros. Mas o problema subsiste: é que “os direitos” não têm cor.
É uma terra perigosa para quem não a conhece. Mas é para lá que vão convergindo durante os próximos dias, milhões de pessoas á procura de momentos felizes. E os Portugueses lá estarão em força.
A segurança é assim um ponto fulcral quando se juntam milhões de pessoas. Este é um dos lados importantes desta bola.
A preparação de todos os trâmites inerentes á segurança é algo que começa logo após o anúncio do país organizador. São centenas de homens que se mobilizam, treinam, estudam, se equipam para proteger outros milhares. São cabeças pensantes, treinadas e dotadas de experiência que tentam antecipar os passos dos “intrusos”. Hoje os riscos são grandes. São os atentados terroristas que mais preocupam os homens da segurança. Seguidamente temos o crime mais comum e diário, o qual encontra nestes aglomerados oportunidades únicas para operar. E nesta terra o que mais existe é crime. Em pequena ou grande escala, esse crime faz da nossa segurança, um bem preciso.
Quem escolheu a África do Sul para a realização de um evento desta dimensão ou não sabia bem o tipo de vida que ali se vive, ou saberá bem mais que todos nós!.
Esperemos que as contrariedades se fiquem por assaltos aos quartos dos repórteres e na usurpação de equipamento de trabalho e de dinheiro. A nossa vida vale bem mais que tudo isto, mas nesta terra a vida é muito relativa.
As comitivas, são mais um dos lados dessa bola especial.
Nada, nem ninguém, poderá faltar nesta fase.
Cada grupo parte com um mínimo de quarenta pessoas. O grupo português não foi excepção. São os “Navegadores”. O treinador, os jogadores, (titulares e suplentes), os camareiros, os preparadores físicos, o médico, o cozinheiro, mais os membros da federação e claro, os convidados, estarão lá. Todos acham a sua participação importante, mesmo que seja pesado para o orçamento de estado, já em crise. Um Boeing só para eles. Tudo só para eles.
Uma coisa é certa: nada pode faltar aos artistas. Tudo está preparado para as mais pequenas necessidades. Os hotéis são escolhidos a dedo de modo a proporcionar a melhor e mais confortável estadia de sempre. Qualquer “aí” é assistido na hora. Mas em Portugal, fecham-se centros de saúde e hospitais a cada dia que passa.
Saberão estes homens dar valor a esta vida que lhes apresenta vassalagem a cada passo?
É bom que saibam, pois nesta altura são todos os portugueses que se sacrificam em prol de bons resultados. E queremos tê-los!
Ora, são esses mesmos protagonistas que compõem outro dos lados desta bola diferente. E este lado é bem pesado! Valem milhões estes homens. Há equipas cujo valor conjunto dos jogadores daria para construir excelentes hospitais, escolas, estradas, alimentar populações inteiras. Eles são os melhores. São o melhor que um país tem para se representar desportivamente. Pensamos todos que darão o seu melhor. Cada lugar no campo tem o seu titular. Cada posição tem o seu valor. Ninguém está lá de graça. É muito dinheiro em campo! É dinheiro em demasia concentrado apenas em alguns homens. Eles têm tudo e podem ter o que quiserem. Ninguém necessita de ter tanto para viver quando outros vivem com tão pouco. O que choca é que são estes que tentam sobreviver a cada dia que passa, quem os apoia incondicionalmente.
São estas massas, molduras humanas, um quarto lado da bola.
Nascem assim que termina a fase do apuramento. Este é o início da organização, da galvanização, da esperança em torno de onze homens e uma bola. São loucuras que se fazem, apostas que nascem, desafios que se colocam. Tudo, para estar sempre mais perto da sua selecção. Uns, mais aventureiros vão, outros, mais temerários, ficam. De tudo se encontra: há os que fazem milhares de quilómetros ao volante de um automóvel, os que viajam longas horas através do espaço aéreo, os que iniciam uma poupança desenfreada para conseguirem obter ingressos dispendiosos, os que fazem empréstimos á banca e não só, para conseguirem realizar o sonho de estar lá, onde tudo vai acontecer. Aqueles que ficam, também sofrem. Rostos pregados no ecrã, lágrimas que correm, corações que palpitam. Também esses fazem as suas loucuras. Pedem aos seus superiores saídas antecipadas, combinam jantares com amigos, aglomeram-se em cafés, compram grades de cervejas, encomendam pizzas e frangos de churrasco.
Conforme o tempo passa e os resultados surgem, uns vão ficando mais felizes que outros, uns regressam a casa mais cedo do que pensavam. O peso da derrota é duro de suportar mas o mais difícil é mesmo a eliminação. Conformados, regressam a casa mas sem nunca questionarem se valeu a pena. Mas será que valeu mesmo?
A dedicação e apoio incondicional é algo que só a bola proporciona. Mais um lado.
Quando se trata da nossa selecção, todos estamos juntos. As bandeiras aparecem nas casas, nas janelas, nos carros. Há milhões espalhados pelo mundo que sentem orgulho em ser português. Gritam-no a cada desafio, a cada golo. Sofrem com cada jogada menos feliz. É genuína esta dedicação. Nós somos assim. Saímos para a rua, apoiamos as nossas cores sempre que é preciso, organizamos eventos, concertos, piqueniques simplesmente para mostrarmos o nosso apoio incondicional a esses homens bafejados pela sorte de poderem um dia andar de emblema ao peito. O Parque Eduardo VII em Lisboa, todo coberto de verde e vermelho, foi a prova da nossa fé.
E fazemo-lo sem contrapartidas monetárias. Só desejamos ver a nossa bandeira subir num dos mastros da vitória. Merecemos, porque acreditamos. Em nós e neles.
A música é sempre bem vinda. Está ligada á bola. Outro lado. São os cânticos que galvanizam e acompanham cada desafio. Com ela, conseguem-se vitórias, abrilhantam-se corações, comunicam mundos diferentes.
Também desta vez Portugal terá, não uma, mas várias musicas dedicadas á nossa selecção. Qualquer delas está cheia de carisma e força. Basta usá-las em campo e pôr os homens a bailar. Tango, Sevilhana, marrabenta, samba, não importa o estilo. O importante é mesmo dançar e mostrar que somos bons.
Vamos dar baile a todos e assim caminhar no sentido da vitória. Jogo após jogo, baile após baile, vamos dançando conforme a musica sem nunca sair do ritmo.
Portugal sempre soube dançar e dançaremos uma vez mais. Quantas forem precisas. Até ao baile final.
Estes são os 6 lados de uma bola cúbica imaginária.
Voltemos á bola redonda, estilizada, real.
Cantemos as nossas canções, sintamos o nosso Hino.
Apoiemos os nossos homens. Vamos selecção! Força e coragem. Acreditem, sejam humildes, dêem-nos força para vos apoiar. Vamos ser grandes e mostrar uma vez mais ao mundo que ainda não esquecemos como se conquistam vitórias. Não queremos favores. Queremos méritos. Nós, por cá estaremos sempre do vosso lado.
FORÇA, GRANDE PORTUGAL.
CSD
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