10 DE JUNHO EM MOÇAMBIQUE
A 4.688 milhas de Portugal, também aqui foi sentido o nosso dia.
Prédio da Emb. Portuguesa |
Foi um dia sentido em que os portugueses pareceram mais unidos e solidários.
As senhoras foram manhã cedo ao cabeleireiro, pois no final do dia impunha-se a presença habitual na residência do Embaixador de Portugal em Maputo, Godinho de Matos.
Pelas dezoito horas começaram a chegar os convidados empunhando orgulhosamente o convite. Muitos genuínos portugueses, muitos africanos com dupla nacionalidade, muitos indianos igualmente com duplo passaporte e muitos convidados locais e estrangeiros.
Casa cheia uma vez mais para saudar o grande dia e homenagear Portugal. Muitos foram os sorrisos e as conversas em surdina. Muitos os encontros desejados e muitas as apresentações ocasionais. Todos juntos e preparados para mais uma celebração portuguesa.
Honras feitas, escutou-se o hino moçambicano, longo, ritmado e com muitos “motes” à independência, luta, liberdade e emancipação. É uma letra aguçada esta!
Nenhum português pode ficar indiferente a este cantar pesado de revolta e muito sentimento. Já lá vão 35 anos de independência moçambicana, mas são tantos os traços e costumes portugueses ainda enraizados nesta terra, que dificilmente a sentimos como não sendo nossa. Mas é verdade: Moçambique é independente. Mas custa ouvir palavras como “combate”, “tirano”, “escravizar” dirigidas a todos aqueles que um dia amaram esta terra.
Depois abriram-se os corações e entoou-se a mais bela melodia de Portugal: A Portuguesa. Não consigo travar a emoção que sinto sempre que escuto este hino. As lágrimas afloram, os lábios tremem, o coração aperta-se. E tão longe de Portugal, tudo parece ter ainda mais sentimento.
Seguiram-se os habituais discursos. Primeiro, o do anfitrião. Depois o do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, muito trabalhado para mostrar aos que se encontram longe que o caminho trilhado pelo governo luso está a ser o mais correcto e necessário face à crise. As atenções começaram a ser naturalmente desviadas para os vizinhos de circunstância, originando um burburinho de fundo embaraçoso e desrespeitante para os oradores. Quem assistia, demonstrava a sua saturação e as pernas começavam a ceder face a imposta postura. Finalmente o discurso do representante da Republica Moçambicana. Valeu-nos a simplicidade já habitual destes discursos e o brinde aos dois Presidentes. Foi rápido e sem (com)texto.
Começaram então a surgir o que normalmente move os estrangeiros; as nossas iguarias nacionais. Salgadinhos, docinhos, tostinhas, mini sandes, presuntinho serrano, queijinho da serra, azeitonas, tudo para deleite de portugueses e não só. Como música de fundo e a acompanhar as conversas em língua portuguesa, sentimos o fado. Foi um bom gostinho de Portugal.
Pelas vinte horas, estava a festa praticamente terminada e a debandada foi sendo evidente.
Fica para a nossa história, mais uma homenagem a Portugal.
Mas a grande festa portuguesa foi no sábado, 12 de Junho, na Escola Portuguesa de Maputo, desta vez organizada pelo Consulado de Portugal e pela sempre muito activa Cônsul, Dra. Graça Gonçalves Pereira.
Trajados a rigor e sempre com as cores nacionais, os portugueses foram aparecendo gradualmente nos grandes portões da Escola. O verde e o vermelho eram as cores dominantes. Mas também apareceram aqueles que só se identificam com Portugal através da camisola do seu clube de futebol. Mas antes isso que nada!
O programa de festas era extenso, muito diversificado e até às tantas.
Muitas actividades para crianças e adultos. Feira do livro, Exposições de pintura, Fotografia, Cinema, Teatro, Música, Poesia, Espaços de Desporto, Radical, Descanso, Criança, e claro Magalhães. Muita comidinha típica portuguesa, a salientar o caldo verde, o frango assado e as sardinhas, que já estão gordas! Feijoada e dobrada também lá estavam. Mas o recorde das filas foi na “barraquinha” dos pastéis de nata. Este será sempre um doce muito apreciado pelo português onde quer eu esteja. O Santo António marcou a sua presença através do manjerico. E que bem que cheira este vaso com direito a quadra popular. A minha preferida foi sobre o amor.
Por volta da hora de almoço, ouviu-se o hino, ou melhor, alguns tiveram o privilégio de escutar o hino nacional, uma vez que foi tocado sem aviso prévio e só abrangeu uma parte da enorme escola portuguesa. O mesmo se passou com o discurso no nosso embaixador de Portugal. Não foi bonito colocar o homem a discursar uma vez mais sem aviso prévio, para um bando de portugueses cuja atenção estava virada para a fabulosa sardinha no prato envolta em pimentos assados e duas fatias de broa. Por muito importante que seja um embaixador, para um português a sardinha ganhará sempre. Mas são estas coisas que fazem das festas algo inesquecível. O importante é que aprendamos com estas gafes!
E assim se passou mais um dia em honra de Portugal.
Mas houve ainda outro momento em que Portugal foi lembrado, sentido, sofrido: o primeiro jogo no Mundial de Futebol da África do Sul, no dia 15 de Junho de 2010.
As vuvuzelas fizeram-se sentir como um enxame de abelhas em permanente alvoroço. É ensurdecedor este som. Chega a ser irritante. E acho que será mesmo esse o objectivo escondido em cada sopro. O resultado não foi o esperado. A Costa do Marfim revelou-se um adversário à altura. Ou nós não estivemos à altura deles!! Muitas foram as caras de decepção que se vislumbraram após o apito final.
No entanto, estamos todos confiantes. Continuamos entusiasmados. As bandeiras continuam ao vento e muita fé em cada casa.
Vamos lá Portugal. Nada está perdido. Tudo em aberto.
Pequeno mas grande, será sempre o teu lema.
Estamos juntos, como dizem os moçambicanos.
E estamos mesmo. SEMPRE
CSD
17 de Junho de 2010.
Comentários
Enviar um comentário