AS PRIMEIRAS FÉRIAS EM MOÇAMBIQUE

PONTA DO OURO / KRUGER PARK / PRAIA DA MACANETA

Após dois meses e meio em Moçambique, chegámos a uma das épocas mais aguardadas; o Natal e as respectivas férias.

Esta quadra festiva, é vivida aqui de uma forma muito diferente do habitual. Muitas são as religiões existentes, o que faz desta terra algo heterogenia em termos religiosos. Mas os católicos, esses tentam marcar a sua presença conforme podem. Aqui, o Natal é, literalmente, o que um homem quiser.

As escolas fecharam, as pessoas partiram e Maputo ficou deserta.
As ruas não foram iluminadas, as pessoas não ficaram mais solidárias, as lojas não se engalanaram com cores e bolas e os sacos das prendas não se viram. Aparentemente, a cidade manteve o seu ar naturalmente triste e sem brilho. Só mesmo as grandes superfícies existentes tentaram lembrar ao moçambicano e à comunidade internacional que por cá ficou, que o tempo de Jesus tinha chegado. Muito havia para comprar, mas o calor sentido lá fora torna-se um entrave à imaginação polar. As meias de lã não encaixam nas lareiras inexistentes, os bonecos de neve parecem derreter sob os quase 37ºC, as mantas quentinhas provocam urticária e até o bafo dos animais por cima de Jesus faz aflição. Nada combina com o nosso Natal. Não cheira, não se vê, não se sente.

Mas a consoada existe e foi passada em casa de amigos portugueses. Reuniram-se 21 portugueses a uma só mesa. Aí sim, sentiu-se o Natal. Um Natal mais suave é certo, mas nem por isso menos importante. Estávamos muito longe do nosso Portugal, mas o bacalhau e a minha açorda souberam ao verdadeiro. Havia sonhos de abóbora, rabanadas, filhós, frutos secos, castanha assada, tudo o que compõe uma mesa nacional. À meia-noite chegou o Pai Natal para os mais novos e a festa foi divertida. Por fim, a natureza decidiu brindar-nos com uma trovoada seca que nos fez lembrar o fogo de artifício. Foi bom, pois apesar de longe estivemos muito perto da nossa tradição. E aqui, a fobia das prendas não existe, o que torna o Natal muito mais saudável.

Mas, as férias de Natal estendem-se por vários dias e aproveitando a experiência dos que já cá estão há alguns anos, decidimos partir.

Aqui o Natal é tempo de praia.


Fomos para a Ponta do Ouro no dia 26 de Dezembro com estadia marcada para 8 dias. A Ponta do Ouro situa-se muito perto da fronteira mais a sul com a África do Sul. A distância entre Maputo e a Ponto do Ouro é de apenas 120 km, mas como o batelão que costumava fazer a travessia dos carros para o outro lado (Catembe) estava avariado e a ponte mais lá à frente tinha ruído (!!!), tivemos de fazer mais 80 km. O percurso a que chamamos estrada, de estrada nada tem. Está muito degradada, cheia de buracos, pedra e areia. Foi por isso uma aventura que durou 5 horas.
















14 Pessoas reuniram-se em 3 grandes jeeps, carregadinhos de comida até ao topo. Deve-se referir que a Ponta do Ouro é um local de praia, remoto, onde os bens mais básicos por vezes têm dificuldade em chegar e os que chegam são Sul-africanos e têm preços elevados. Optamos por isso por nos aviar em terra. A meio percurso, um dos jeeps começou a aquecer. Tentou-se rebocar para uma zona com menos areia, mas o cabo do reboque partiu e foram os homens que puxaram pelos seus músculos e empurraram o jeep. A temperatura exterior rondava os 43ºC!! Finalmente, lá se conseguiu colocar o jeep a andar e lá chegámos ao nosso destino, com uma sensação de sova bem dada!

Com promessas de encontrarmos uma casa agradável e limpa, deparámo-nos com baratas mortas por todo o lado, água fria, chão cheio de areia, sem Tv e tudo muito degradado. A primeira reacção não foi das melhores, mas tivemos de encarar a coisa na desportiva pois já estava tudo pago e restava-nos aproveitar ao máximo a praia, que era excelente e ficava a apenas 100 metros de casa.

Realmente o areal era muito bom. Quase só para nós e com água morna, a praia foi de facto uma agradável surpresa. Mas o mar apresentou-se sempre revolto, o que obrigou a uma vigilância permanente, principalmente para com as crianças. A garrafa azul, ou seja, umas alforrecas azuis que andam no mar e que ao tocar na nossa pele provocam dor forte, também apareceram, o que nos fez afastar ainda mais do mar.
Foram dias de descanso, onde só o som do mar embalava as nossas consciências. Para nos facilitar ainda mais as merecidas férias, aproveitamos a existência do guarda da casa e acordámos a montagem do toldo e cadeirinhas diariamente no espaço da praia que nos pertencia. Sem toldo é impossível resistir ao tórrido sol de Dezembro. Em casa, tínhamos duas empregadas para nos aliviar das tarefas enfadonhas da limpeza diária.
Os dias foram passando até que chegou a primeira festa. Foi um aniversário no dia 29, de uma das crianças. Muitos balões, chapéus e pratos de festa fizeram a alegria de crianças e crescidos. Mas o ponto alto foi mesmo o bolo de chocolate, especialidade de uma das nossas amigas. No dia seguinte a festa continuou pois foi a vez de um dos crescidos completar mais uma primavera. Mais festa, mais animação e mais bolo de chocolate. E chegámos ao último dia do ano de 2009.

Preparámos a grande mesa para a passagem de ano. Tivemos direito a tudo. Camarão, amêijoa, presunto, chouriço, frutos secos, bebidas espirituosas e o inesquecível champanhe. Há meia-noite, abraços e votos para um 2010 com saúde e claro, muitos passeios. E fomos ao banho!! A água estava deliciosa. Chovia, o que nos proporcionou um momento por poucos já saboreado. Foi muito bom e será seguramente o banho mais recordado o longo das nossas vidas.

Mas os dias seguiram-se já com o fim no horizonte.

Numa das últimas noites assistimos a uma peça de teatro real cujos protagonistas eram locais. Tudo se passou na véspera da nossa partida, já de madrugada. De catana em punho, entraram pelo nosso jardim à 1 da manhã. A história é para nós um pouco incrédula, mas para eles é o normal. O Gildo foi trabalhar para a África do Sul e deixou a mulher Ofélia na Ponta do Ouro mais o seu filho. Como esta gente é muito quente, a Ofélia não conseguiu atenuar os seus desejos de fêmea e "meteu-se" com um outro homem. Acontece que o Gildo quando regressou soube do acontecido e descobriu que lhe tinham feito uma “macumba”. O problema do Gildo era o seguinte: "Patrão, este homem fez merda; isto já não trabalha! Já não consigo estar com mulher!" Isto soubemos, depois de termos todos saído dos quartos para tirar a catana ao Gildo e para constatar que o outro já tinha dois golpes valentes nas costas. Corremos com eles para fora do acesso da casa e colocámos o nosso guarda a vigiar. O mais espantoso é que a Ofélia confirmou a traição e a ida ao feiticeiro. Enfim, um filme!!

Regressámos a Maputo a 03 de Janeiro. A viagem foi mais penosa pois já sabíamos com o que contar. Mas chegamos bem, com muito sol e maresia na bagagem.

Como os feriados se sucediam, tornámos a sair novamente com o mesmo grupo, desta vez para o Kruger (África do Sul) a 07 de Janeiro.

Estrada boa mas as fronteiras são um filme. A primeira fronteira é de Moçambique. Mostram-se os passaportes, dá-se a referência dos carros e nr de pessoas. É-nos dado um papel que teremos de entregar na fronteira mais à frente. Pouco metros depois entramos na fronteira da África do Sul. Muito mal encarados!! Novamente passaportes, mas desta vez todos temos de estar presentes no edifício. Mais um papel para entregarmos à saída. E finalmente estamos na África do Sul.


Dormimos nessa noite (07 de Janeiro) no Hotel Pestana no Kruger. Casinhas individuais com telhado em colmo e um espaço muito acolhedor. Foi muito bom. Partimos na madrugada do dia 08 para o Kruger para aproveitarmos bem o tempo. É uma imensidão de terra savana. Tem a extensão de Israel!! Conseguimos ver quase todos os "big five": Elefante, Búfalo, Rinoceronte, Leão e Leopardo. Este último foi o que falhou. Estivemos a cerca de 3 metros dos leões e com macacos dentro do carro. Foi emocionante ver todos estes animais bem perto. Mas havia muitos mais entre girafas, hipopótamos, crocodilos, impalas, lagartos, tartarugas, javalis, bois cavalos, etc. Foi muito cansativo pois tivemos de estar sempre alerta para podermos descobrir todos os animais disfarçados na vegetação.


Nessa noite ficámos em Nielsprit, o “centro comercial” mais perto de Maputo e onde todos os Moçambicanos fazem as suas compras e apanham um banho de civilização. Comprámos algumas coisas e principalmente carne, que é excelente. Dia 09 e depois das compras feitas, regressámos a Maputo. Mais estrada, mais fronteiras e mais uma terra descoberta.

Ainda com uma réstia de energia, desafiaram-nos para mais um passeio, no Domingo, desta vez à Praia da Macaneta em Marracuene. Fica a cerca de 40 km a norte de Maputo. 6 pessoas, só num jeep. Saímos de Maputo em direcção a Xai Xai. Estrada fora chegámos a Marracuene. Para acedermos à praia, temos de atravessar no batelão.

Após algum tempo de espera sob um sol abrasador, lá chegou a nossa vez de embarcar. É assustador, pois além do aspecto do referido batelão ser muito arcaico, os carros vão quase de fora!! Mas lá conseguimos chegar ao outro lado. Após um caminho em picada, alcançamos a praia. Enorme, um pouco suja e com o mesmo mar da Ponta do Ouro. A maior curiosidade desta praia foi mesmo o facto da população aproveitar o dia de Domingo e cozinhar in loco. Vi estarem a cozinhar Chima (farinha que depois de feita fica como puré), salsichas, salada russa, etc, tudo em plena areia com os respectivos tachos, pratos de loiça e fogareiro!!. Mas aqui é tudo assim e tudo funciona! O regresso fez-se ao final do dia já com o pôr-do-sol à espreita.


E pronto, estas foram as nossas primeiras férias de 2010. E há ainda tanto para conhecer!

CSD

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