NATAL EM MOÇAMBIQUE

Que Natal? 
O nosso, o europeu, o tradicional, o familiar? 
Aqui existe o de Jesus, o verdadeiro. Sem consumo, sem luxo, sem abundância.

O meu Presépio 
Onde anda o Pai Natal?
Onde estão as ruas enfeitadas com luzes e figuras brilhantes?
E o gigante pinheiro de Natal que se ergue anualmente numa grande cidade?
E as casas aquecidas com presépio e pinheiro engalanado?
E a mesa posta com tudo o que é tradição? 
E os embrulhos coloridos com prendas caras?
E a azafama de última hora?
E o cheio a fritos nas cozinhas das mães e avós?
E o bom bacalhau? 
NADA!


O meu pinheiro de Natal

Batendo perna vou para a rua à procura do Natal. 
O que vejo, não me surpreende. 
- Pai Natal só mesmo na imaginação de cada criança. As renas não conhecem o caminho para este país!
- As ruas continuam sujas de lixo, terra e buracos novos, fruto das chuvadas típicas da época. Brilho, só mesmo o dos vidros das garrafas partidas nas noites de folia. 
- O pinheiro aqui é a Palmeira, que lá do alto, ignora o povo não se deixando enfeitar.
- As casas continuam precárias e feitas à medida de cada ordenado ganho. O calor é natural e sufocante, pois é verão. A electricidade usurpada não permite grandes luminosidades. O presépio e o pinheiro de plástico são só para os católicos que os possam adquirir.
- A mesa é a capulana estendida no chão de terra batida e com sorte, há algo em cima para comer. 
- Os embrulhos aqui são sacos de plástico com o básico da alimentação. Depois de vazios voam pelo céu num esgar de liberdade.
- A azáfama é a corrida diária para apanhar os “chapas” que lotados, brincam com o povo encurtando trajectos e aumentado preços sem aviso prévio.     
- O cheiro a fritos é o cheiro do suor de mais um dia de trabalho, porque o pote ao lume, tem Xima.
- Bacalhau é um luxo, até mesmo para os internacionais. Quando é uma casa de dois salários, cheira a chamuças, vaca cozida ou frango grelhado.

O povo católico vive o verdadeiro Natal em Moçambique. Famílias inteiras vão para a igreja ao entardecer de 24 e lá permanecem até manhã. Não só a oração está presente. Também cantam, recitam poesias, fazem jogos e sortes. Convivem e toleram-se sem luxos. Após a oração do dia de Natal, regressam a casa para aí comerem o bolo e oferecerem às crianças as prendas possíveis. O resto do dia é em paz e em família. Quem não crê neste Deus vai à praia e bebe até se superar.

Mas o falso Natal também existe aqui em Moçambique. Os quatro grandes super mercados estão a abarrotar de símbolos natalícios, mesmo que os donos sejam muçulmanos. Quem pode, tem Natal europeu. E há muitos que o podem, pois também aqui a riqueza está muito mal distribuída. 

O meu Natal será Português. A minha árvore está feita, as prendas estão lá e na mesa nada faltará. A diferença entre o falso Natal e o meu Natal?  É simples: o meu Natal nesta terra tem 365 dias. Ajudo sempre que posso com prazer e sem interesse algum. 

Um Santo Natal para todos. 

CSD     

Comentários

  1. Nesse lugar pensei: Quanto deserto/ Atravessei para encontrar aquilo/ Que morava entre os homens e tão perto.»
    Sofia de Mello B Andresen
    Feliz Natal CSD. Que este ano a sua Familia possa ser "Um Presépio" em Moçambique.

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  2. Belíssimo texto.Comme d)habitude.
    Um Natal abençoado para vós
    Beijocas.
    ADRI

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