LAMEGO


Vista Cidade de Lamego

Abençoada por Deus e protegida pela Nossa Senhora dos Remédios sua padroeira, Lamego encanta. Situada na margem sul do Rio Douro, esta cidade histórica e monumental da beira transmontana remonta ao tempo dos Romanos. Reconquistada aos Mouros em 1057 por Fernando Magno de Leão, Lamego é hoje uma cidade imperdível. E se encanta 365 dias por ano, na Páscoa torna-se especial! As tradições mantém o espírito vivo e nós fomos vivê-lo.

A Procissão do Senhor Morto é a mais solene e comovente celebração da Semana Santa. Na noite de Sexta Feira Santa e à hora certa,  junta-se o povo à porta da Igreja das Chagas para assistir à partida da Procissão. Num silêncio sepulcral, avança a morte pelo piso empedrado. As matracas marcam o ritmo do desfile. O esquife do Senhor Morto percorre as ruas e avenidas da cidade repletas de fieis, numa exaltação da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo.

Procissão do Senhor Morto



Os Mesários da Misericórdia de Lamego vestidos com as suas "opas", os figurantes envergando sandálias, túnicas e mantos conferem um realismo puro ao surdo desfile.  Os andores decorados a preceito e carregados por homens de fé, movem-se lentamente pela calçada fria. As lanternas, as tochas e as velas ladeiam o esquife e iluminam os passos e a alma de quem é crente.

E Cristo cai sob o peso de Cruz! Todos os anos se aguarda a queda e todos os anos ecoa um bruaá de dor e compaixão. É a fé do povo presente no julgamento, na paixão, na crucificação, na morte e no enterro de Jesus Cristo.








O som áspero das tradicionais matracas e dos acordes fúnebres da Banda Filarmónica de Magueija embalam os pensamentos e o passo sincronizado de quem desfila. É solene e tocante.     







Na cauda da Procissão vai o povo, peregrinando, cumprindo promessas, agradecendo a Cristo graças e alegrias e cimentando a fé a cada ano que passa. Este cortejo nocturno da Sexta Feira Santa termina na Igreja da Sé Catedral com uma Celebração litúrgica presidida por D. António Couto, Bispo da Diocese de Lamego.

Sábado amanheceu ensolarado e quente para um dia de Abril. Impunha-se uma visita ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, uma igreja magnífica situada no topo do Monte de Santo Estêvão. Ladeada por torres sineiras, esta pérola construída em granito remonta ao estilo barroco e rococó.

Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

Torres sineiras

Mas nem sempre a Senhora dos Remédio foi padroeira da cidade. Nos primórdios, em 1361, foi erguida neste monte uma pequena capela devota a Santo Estevão. As condições climatéricas agrestes que assolam estas terras do norte de Portugal foram danificando a pequena capela levando à sua destruição. Em 1568, o Bispo de Lamego ordenou a sua demolição e programou a construção de uma nova igreja tendo a Virgem com o Menino como padroeira. Em 1760 foi lançada a primeira pedra. A devoção a Santo Estêvão foi esmorecendo. As novas preces à Virgem para alívio das enfermidades tomaram conta dos devotos, dando um novo nome à Padroeira; Nossa Senhora dos Remédios. Este monumento incontornável da cidade de Lamego foi terminado em 1905.

Altar Mor de Nossa Senhora dos Remédios
Teto da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios 

A vista sobre a cidade é magnifica e apetece contemplar sem pressas. Sob os nossos pés estende-se um imenso escadório cenográfico.

"Se da Cidade ao Santuário,
o escadório quiser subir,
quantos os degraus que
pela frente lhe vão surgir?"

Preparem-se, pois são 686 degraus!

Inserido no Parque de Santo Estêvão este escadório esconde verdadeiras obras de arte. São 9 lances de escadas e em cada patamar somos surpreendidos por esculturas, estátuas, obeliscos, fontes, painéis de azulejos e até uma capela. Os piqueniques enchem as sombras nas quentes tardes de verão. 

Vista sobre a cidade
Início Escadório cenográfico

Recantos do Parque de Santo Estevão

Parque de Santo Estevão

Mas regressemos às tradições pascais. No Domingo de Páscoa cumpre-se o Compasso Pascal. Manhã cedo ecoam os sinos nas ruas, anunciando Padres e acólitos em peregrinação, os mensageiros da fé cristã. Abrem-se as portas e em espaços engalanados, recebe-se Jesus. O Crucifixo de Cristo que representa a presença de Jesus Vivo, viaja de casa em casa abençoando as famílias que mostram vontade em receber a visita de Jesus Ressuscitado. Benzida a casa e a família, dá-se a Cruz a beijar a cada crente, em demonstração de adoração e fé. Uma cerimónia simples para um momento tão marcante: a Ressurreição de Cristo. 



Visita terminada eis que se prepara o repasto. Os cheiros vindos da cozinha não enganam! As tradições são cumpridas e a família junta-se em harmonia. À mesa não falta o cabrito assado com as batatinhas e o arroz de forno em alguidar de barro. Leite creme e muita paz, finalizam o almoço já prolongado na tarde. Lembranças de tempos idos, de gente já ausente salpicam as conversas entre garfadas e promessas de mais momentos únicos. Encontro marcado para o próximo ano.

Mas Lamego tem muito mais para mostrar!

A partir da segunda quinzena de Agosto começa a festa. Durante 20 dias esta cidade do interior é o palco de uma vasta e eclética animação religiosa, cultural e desportiva que termina no dia da Padroeira, 8 de Setembro. As principais avenidas e ruas são engalanadas e enchem-se de tascas e tasquinhas, bombos e arraiais numa festa sem igual. Os vários fogos de artifício surpreendem e embelezam a festa. A Procissão do Triunfo, cuja característica são os andores de imagens sagradas puxadas pelas juntas de bois terminam as celebrações em honra de Nossa Senhora dos Remédios. É um programa completo que atrai muitos romeiros, veraneantes e foliões. A não perder!


Procissão do Triunfo - Andor com junta de bois

Pejada de monumentos, casas brasonadas, cantos e recantos de história, esta pérola do interior precisa de tempo para ser explorada. E vale cada minuto!

Estátua "O Lamego"

Teatro Ribeiro Conceição

Museu de Lamego

Sé Catedral de Lamego

Claustros da Sé Catedral de Lamego

Castelo de Lamego

Ruelas no Castelo
Cadas das Brolhas 
E nos arredores há outro tanto para ver. Num passeio descontraído, fomos percorrendo aldeias típicas e remotas, perdidas na serra. Desde o Bairro da Ponte até à Ucanha, há um interior profundo por descobrir e explorar. As terras genuínas e as paisagens serenas renovam-nos a alma.

Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

Ponte pedonal da Ucanha

Torre fortificada da Ucanha

Ponte e Torre edificada da Ucanha



Foi um fim de semana alargado, vivido em terras do norte e onde as tradições perduram e se sentem com fé, devoção e alma. Pedaços de história e cultura pouco presentes nas grandes cidades de Portugal. Valha-nos o interior para perpetuar o legado histórico e cultural.

Escadório de Nossa Senhora dos Remédios

CSD

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