SYDNEY AT FIRST SIGHT


Sim, Sydney é isso mesmo: maravilhosa, luminosa, cosmopolita, informal, organizada e ... cativante. Talvez por tudo isto, seja duro cá chegar! A viagem de 23h50 minutos demora tempo e consome lucidez. Os aviões esforçam-se por nos distrair individualizando ecrãs, disponibilizando informação em tempo real, jogos e filmes ilimitados, internet durante duas horas num esforço supremo para que o tempo não demore a passar. Mas ... esqueçam lá isso! O corpo dorme quando não devia, almoça-se à hora de jantar, mata bichamos de madrugada, tudo face a um relógio com horas sem sentido. A cada milha, mais trocada fica a nossa existência. E a 45 minutos do fim da viajem, é o despoletar da ansiedade. Noite cerrada lá fora, parece que pairamos sempre no mesmo sítio, petrificados a -45º graus. O chão insiste em fugir. Até que, e finalmente, o tão esperado embate das rodas em solo Australiano! Despenteados, amarrotados, ensonados, alguns descalços, dizemos adeus aos companheiros de viagem e à equipa das giraças da Emirates, frescas como alfaces, que nos apoiaram nesta maratona. VIVA! Chegámos ao outro lado do mundo!


Hyde Park e CBD
Naquela manhã de quarta feira, Sydney era uma cidade a acordar, tal como nós. Apanhámos um táxi e fomos dormir, apesar de todas as vozes dizerem que não podemos, que não devemos, que temos de acertar agulhas! Pois é ... foi quarta, foi quinta, foi sexta até o nosso organismo perceber que o sol nasce e roda para o lado oposto, que o norte é que é bom e que as fechaduras e torneiras funcionam ao contrario!  Ao quinto dia já nos orientamos e a vida começa a parecer muito mais fácil. De mapa na mão, fomos desbravando caminhos num Sábado cheio de sol, numa cidade muito em esquadria. Os primeiros olhares procuraram os ex-libris habituais: a Ópera de Sydney e a Harbour Bridge. E confirma-se: são magnificos!

Ópera de Sydney
Harbour Bridge

O núcleo da baixa, CBD (Central Business District), é um aglomerado de escritórios em altura, onde centenas de pessoas se conectam com o mundo a partir deste continente isolado e distante. É aqui que nos familiarizamos com lojas, marcas, estilos conhecidos de uma Europa tão distante. São ruas chiques, para bolsas especificas. Mas o povo é predominantemente asiático, oriental, de olhinhos em bico. Foi o meu primeiro choque: nunca pensei que fossem tantos! São milhares como formigas, sempre de telemóvel em punho, cifose já acentuada, buscando contacto num mundo virtual, numa realidade muito própria, num tempo egoísta.  Com dedos ágeis, percorrem as notificações e caçam pokemons como ninguém! A febre também aqui se instalou e já roça a epidemia! Dominam o comércio e alguns serviços. E entende-los, só com ouvido de músico! Depois há os outros, os australianos, grandes, informais, com um sorriso na cara e um inglês preguiçoso onde a maior parte das palavras sofreu um corte, onde sons que se lêem não se pronunciam. E “mate” existe, como fim de muitas conversas.

Estamos no inverno e acreditem...também faz frio. Hoje e ao fim de 13 dias de estadia ensolarada, acordámos com um céu de caretas, 9 graus e uma chuva gelada. A amplitude térmica é uma constante e nunca “vestir como as cebolas” fez tanto sentido! As manhãs frias dão lugar a tardes soalheiras de 22 graus. Mas às 17h já o sol diz adeus, envolvendo-nos em noites escuras e novamente frescas. Frio ou quente, nada impede os australianos de fazerem o seu jogging. São viciados em desporto e todas as ocasiões são um bom motivo para se vir para a rua, conviver e apanhar sol.  Neste nosso primeiro fim de semana houve uma corrida “City 2 surf” que mobilizou perto de 40.000 participantes. Partiu daqui da nossa rua e o cenário era inacreditável: milhares à espera da partida e espalhados ao longo dos passeios, centenas de casacos deitados literalmente para o chão. Após a partida, uma equipa de “limpadores” recolherá todos os objectos do chão, que serão deixados na Junta para serem levantados posteriormente pelos donos! Outra noção de pertença!

E falando em pertença, a nossa acompanha-nos pelo mundo. Existem em Sydney duas cadeias de fast food que em tempos foram portuguesas: Oporto e OGalo. Hoje completamente dominados por asiáticos ainda ostentam com orgulho o “portuguese chicken” que infelizmente já nada se assemelha ao nosso churrasco. E nos wc’s de uma das maiores estações de comboio de Sydney, a Museum Station, lavabos “Valadares”! É uma sensação maravilhosa descobrir esta portugalidade.

A próxima epopeia: procura de casa definitiva. Com a mudança já a caminho, impõe-se encontrar um apartamento simpático e à altura da responsabilidade. O mercado de arrendamento é caro em Sydney, pois está muito inflacionado pela grande procura asiática. E o nosso orçamento é aquilo que se sabe: muito desactualizado! Aqui as imobiliárias trabalham de forma diferente. Anunciam na net uma “inspection” com dia e hora marcados. Comparece quem assim o entender. À entrada do edifício um cartaz e um funcionário que nos levará até ao andar em arrendamento. Vamos nós e mais 10 asiáticos! O apartamento estará aberto durante 15 minutos, tempo disponível para se analisar tudo e fazer algumas perguntas. Nós fazemo-las, mas  os asiáticos tiram 50 fotos e saiem porta fora! Quem estiver interessado, preenche a papelada e aguarda uma decisão. Pelo que temos visto até agora ... um simples apartamento de dois quartos vai exigir um grande esforço da nossa parte! Veremos o que se consegue.

Mas Sydney é um mundo e em cada rua um apontamento da história, um jardim onde se espojam grupos inteiros nos muitos dias soalheiros. E nas árvores cantares diferentes, gritos de espécies protegidas, pássaros e passarinhos e passarões nunca vistos, com cores soberbas e tão próximos de nós. É uma fauna singular que convive respeitosamente com os habitantes de Sydney.

Rainbow Lorikeet
Ibis Sagrado
Camélia 
Foram os primeiros dias e mais haverá para contar. Este será seguramente o primeiro de muitos textos sobre esta cidade encantadora e cosmopolita. O relato de passeios já feitos ficará para textos futuros. Acreditem...vale a pena cá vir.

CSD

Comentários

  1. Parabéns Sofia! Com essa veia jornalística dá gosto passar por cá!!! Com relatos tão pormenorizados ficamos mais próximos. Abraços.

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  2. Ora sejas bem-vinda de volta! Texto excelente, como nos habituaste, e descrições entusiásticas das tuas vivências.
    Como já te disse adorámos Sydney. Melbourne é cultura, mas Sydney é vida. Uma cidade fantástica. Foram 4 dias maravilhosos e inesquecíveis. À ponte… não fomos, era estupidamente caro e não conseguimos ajustar os horários da visita ao nosso programa. Para vistas optámos pela Sydney Tower que não desiludiu.
    Continua a dar noticias, principalmente quando viajas. Queremos conhecer mais da Austrália. Mas nem uma vida inteira daria para conhecer bem o continente.
    Bjs a abraço ao Paulo e Afonso

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  3. Obrigada Carlos. De facto a subida à ponte continua cara e terá de esperar por uma ocasião muiiiiito especial. Quem sabe aos 50!! O rasto faremos seguramente porque tempo...não será problema. Um beijo para os dois.

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