A NEGOCIATA MOÇAMBICANA

Feira de Artesanato de Maputo
O espaço é recente e os comerciantes muito batidos noutras paragens. Por iniciativa do governo estes feirantes de arte, que espalhados se encontravam pelos cantos da cidade, foram mobilizados para um recinto novo, acabadinho de inaugurar. A Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo, no Parque dos Continuadores.

Lago em plena feira

Zona de lazer e restauração 
Entrando na feira, deparo-me com uma parede multicolor. Parando um momento para observar o grande estendal de batiques como se de peças a secar se tratassem, logo fui abordada pelo respectivo dono da arte e pelos seus vizinhos, todos apelando à generosidade da minha pessoa e dos meus meticais.

Montra de Batiques
"Bom dia, bom dia! Pode apreciar, mãe. Muita qualidade."

"Sim, eu sei."

"Pode ver à vontade. Veja a qualidade deste trabalho! Posso tirar para ver melhor. Qual é que queres?"

"Ainda não sei. Ainda estou a ver."

"Pode escolher à vontade. Tem música, pesca, trabalho, dança. Qual é que queres ver?."

"Posso ver ou não? Ainda não sei. São tantos!"

"Esteja à vontade, Mãe." 

"Gosto daquele batique dos animais. Quanto custa?"

"Vou tirar para ver melhor. Pode apreciar a qualidade do trabalho. E todas as cores. Já viu esta perfeição? E o tamanho?"

"Sim, e quanto custa?"

"Vou fazer um preço especial. É preço de amigo." 

"E qual é o preço especial de amigo?"

"É o preço de banana amachucada!" 

"Bom, a banana está a 30 meticais o quilo. Se for amachucada tem de ser mais barata!!"

"Oh mãe!! 30 meticais!! Já viu o trabalho? E esta qualidade? Vou dar por 2.500 meticais?"

"Você está a brincar comigo!"

"Mãe! Mãe! Isto é trabalho a sério! Tem garantia".

"Na rua oferecem-me 10, daqueles mais pequenos, por 100 meticais! Vê lá tu!"

"É não é!? Pois é, mas quando pendurar esses na parede, vai ficar tinta lá colada! E se quiser reclamar, vai onde?. Aqui pode reclamar. Mesmo se aparecer buraco! Eu troco e fica tudo bem."

"Pois está bem, mas é muito caro. Não quero esse. E qual é o preço deste mais pequeno?"

"Vou dar por 150 meticais."


"Dou-te 100 meticais."

"Mãe!"

"E é se queres."

Estendendo a mão, enrolou o mais pequeno mas foi perguntando.

"E este grande Mãe? Pode cortar e fazer figura, mãe! Pode fazer muitos desenhos. Fica trabalho bonito. Queres oferecer quanto?"

"No máximo isso vale 700 meticais!."

"Isch, Mãe! Esse preço não dá para nada! Veja a qualidade, o tratamento. Não encontra igual!"

"Está muito caro. Tshau!"

"Mãe, vou embrulhar por 1500!"

"Não embrulhes, porque não vou levar."

Parti à exploração do resto da feira e do resto da cultura que por estas bandas é feita e divulgada. Muitas bancadas, mesas, mantas no chão, muita arte, muita cor e muito tecido, muito negócio em potência.

Mostra em madeira
Arte em palha
Arte em barro
Após algum regateio fui enchendo a minha bolsa de artesanato moçambicano. Já sem meticais na carteira, preparo-me para deixar o espaço da feira. Outro vendedor aborda-me:

"Mãe, tem de 150 e tem estes de 50 meticais. Este posso dar por 50. Mãe, É só para o chapa!"


"Dá cá então um desses de 50."

Atrás de mim a voz já conhecida do primeiro vendedor de batiques:

Estendal de Batiques
"Mãe, vou embrulhar por 500!"

"Agora! Agora já não tenho dinheiro. Fica para a próxima."

Assim se fazem os negócios das oportunidades e dos oportunistas.

CSD


Comentários

Mensagens populares