COMPRAS COMPLICADAS

A árdua tarefa das compras.
A semana e principalmente o fim de semana arrasou com o stock lá de casa. Quando a habitual abastecedora está convalescente e porque a comidinha ainda não se multiplica na despensa, a escassez começa a fazer-se notar. Reunida a coragem necessária e habitual para se alombar, lá se foram adquirir os bens essenciais para as três barrigas da casa. Segunda feira não é o melhor dia, todos o sabemos, mas a falta era grande.

Depois das obrigações matinais, desloquei-me a uma das grandes superfícies que existem nesta terra, fruto do grande olho de negócio dos sul africanos. Fica lá para os lados dos Acordos de Lusaka. Dos espaços existentes nesta grande cidade, este é o que reúne o maior número de géneros a melhor preço. Pelo menos aparenta, já que o nível de vida nesta terra tem aumentado descaradamente!

O trajecto é bom de se fazer pois nada tem de monótono. Alcatrão, semi alcatrão e picada, que consoante o estado do clima, poderá transformar-se em picada esburacada ou até roçar no aquático. Mas nada que um todo o terreno não consiga ultrapassar.

O estacionamento ao ar livre e abundante permite a entrada de uma boa quantidade de clientes. Lá dentro o espaço está a ser renovado o que tem dificultado um pouco a organização das compras. Faz com que aqueles que conhecem o espaço andem perdidos, de lista na mão, com as novas localizações e a nova apresentação do dito. Mas quando se vai para as compras, a pressa deve ser sempre deixada à porta.

Ora começando a condução do carrinho vai-se fazendo os movimentos habituais de prateleira/carrinho, prateleira/carrinho. O volume vai aumentando e a soma também!
Um a um, lá se vai enchendo o carrinho
Chegada ao corredor das manteigas e margarinas, aparece a primeira de muitas e assíduas contrariedades: a falta do produto pretendido.

"Bom dia. A manteiga onde está?" 
"Não tem."  
"Não tem manteiga!?"
"Não tem. Só aquela ali".
"Mas aquela não é boa manteiga, é mais margarina."
"Não tem."

Bom, ultrapassada a decepção continua-se na condução cada vez mais dura provocada pelo peso já constante no carrinho. Os garrafões de água são um bom contributo para a condução aselha! Mas água da torneira, não obrigada!

O corredor do leite está repleto, à primeira vista! A única fila existente é a primeira, reservando lugar para o nada, lá, bem no fundo da prateleira. A falta das paletas habituais de seis unidades obriga-nos a carregar pacotes avulso que não dão grande comodidade. As natas também faltam, e é mais uma baixa na lista pré elaborada.   

Chegada ao corredor dos vegetais. A frescura já não existe e as folhas verdes passaram a amarelas. É impressionante a aparência destas verduras! Moles, velhas, secas, descoloradas. Mas por vezes aparecem alguns legumes diferentes: espargos como por magia. Mas confesso que a sua confecção é para mim um mistério, uma vez que é um legume pouco utilizado nos meus tachos. Daí, decidi obter informações.

"Bom dia, sabe arranjar espargos? Estes espargos estão prontos para cozinhar ou têm de se limpar?"
"Pode fazer caril, sopa, cozer..."
"Sim, isso eu sei. O que lhe pergunto é se tenho de os arranjar primeiro?"
"Tirar a pele?"
"Sim, tirar esta película?"
"Hummmm".
"Espere, diz aqui na embalagem: deve-se arranjar retirando a pele até a parte mais tenra aparecer. É isso,  tem mesmo de se arranjar primeiro."
"Tem de se raspar o gajo?"
"É isso, tem de se raspar o gajo! Obrigada."

Carne e peixe são a desolação das cozinheiras. Frango e suas intimidades (moelas, asas, rabinhos, fígados, corações, etc) estão presentes com bastante fartura e a bom preço. Já o dito nunca custa menos de cinco euros! A vaca também por lá anda, mas a carne denota já muito tempo e fraco manuseio. Do porco só lombos e costeletas, nada mais. 
O peixe é arripiante. Só congelado e naquelas embalagens de medalhões e filetes que são um engano após abertura. Muito gelo e pouca aparência. Impensável. 

Chegando aos ovos deparamo-nos com uma prateleira cómica. Um grande letreiro quase nos intimida: "È proibido tocar nos ovos." Bem, eu finjo que não sei ler português e abro cada uma das paletas. Não toco nos ovos, mas garanto que os que já estão em gemada, ficam lá, para quem os partiu!

Ao lado, a banca do pão e derivados.
"Bom dia, tem fermento fresco?"
"Não tem. Este que usamos aqui é comprado na Matola. Não vendemos aqui."
"Ok, e tem bola de Berlim?"
"Não tem aí?"
"Não estou a ver!"
"Não tem ou está no tabuleiro. Sim está no tabuleiro, mas ainda não tem creme."
"Pois, mas é mesmo sem creme que eu quero."
"Quer sem creme!??"
"Sim, por favor. Sem creme. Obrigada".

Continuando no arduo trabalho de se pensar quais os ingredientes necessários para refeições ainda desconhecidas, avança-se sem medos. A lista de compras está praticamente terminada mas as falhas estão lá, obrigando-me a mais uma deslocação a outro espaço comercial. Becel, cerelac, cereais de chocolate, manteiga, natas, marmelada, tapioca, fermento de padeiro fresco, canela em pó, carne e peixe em bom estado, são as falhas da minha lista desta semana.


Sempre na esgalha!
E na caixa de pagamento é outra aventura. Por vezes somos obrigados a passar o cartão multibanco duas e três vezes para registar o pagamento sem sucesso. Só à quarta vez se confirma a liquidação da soma do nosso carrinho. A verificação posterior do nosso extracto bancário faz-nos arregalar os olhos, pois as outras três vezes em que passámos o cartão, também foram debitadas....
Atenção aos débitos na caixa!
E os pedidos por internet e as entregas ao domicílio ainda não se usam por aqui!


Enfim, só quem anda por estas bandas é que sabe dar valor aos nossos verdadeiros e grandes supermercados de Portugal. Frescura, qualidade, garantia, fartura, promoções e muita variedade. A única vantagem destes daqui, é que mesmo que queiramos gastar mais, não temos onde nem como!

CSD






    

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