MAPUTO À CHUVA

O tempo é de trovoadas. A noite foi rica em luminosidade e no ribombar de trovões.
Quando as cortinas se abrem, o dia amanhece muito feio, assustador até.  Ao longe nuvens carregadas de protesto ameaçam desferir golpes molhados. Enquanto nos preparamos para sair, as pingas frescas vão deixando marcas redondas no chão seco e empoeirado desta cidade. As Acácias tentam proteger-se conforme podem e a passarada vai emitindo avisos e chamamentos à população voadora. 

Entardecer ameaçador 
Do longe se faz perto e sem grandes contemplações as nuvens descarregam em tempo de verão. As gotas são poderosas, deixando bem delimitado o seu espaço no solo. Uma atrás de outra vão encharcando em poucos segundos aquilo que faminto de água se encontrava. Poças, riachos, avalanches de terra vermelha mudam a paisagem de um dia anterior. 

Tempestade ao largo
Já dentro do nosso carro iniciamos uma marcha lenta, pois o bom senso impera nestas adversidades atmosféricas. O nevoeiro chuvoso cerra uma cortina de água e no solo são as ondas que nos conduzem ao destino. A fila compacta-se e todos procuram o melhor caminho. Adivinhar impõe-se para evitar buracos submersos e detritos cortantes. Os veículos ligeiros, mais débeis e pouco preparados para estas adversidades encostam, vencidos. O “Chapa” velho e carregado de gente molhada protesta com este clima e por vezes tem de ser empurrado, estorvando a viagem dos mais corajosos.  



Travessia rodoviária complicada
E o peão? Em passo rápido, o povo tenta fugir abrigando-se conforme pode. Chapéus-de-chuva são poucos e capulanas muitas. De braços no ar empunhando qualquer veste, tudo serve para proteger os densos caracóis escuros desta gente. Encharcados continuam passeio fora à mercê dos condutores mais desumanos. O leque de água suja é banho indesejado. Saltando, correndo, fugindo, esquivando-se, o povo vai exercitando os seus músculos sem o sentir. A chuva é impiedosa e molha todos.

Passada a tormenta, tudo se acalma. Os pingos cessam, os pássaros sacodem-se, o povo seca no corpo as roupas encharcadas e as águas invasoras regressam aos seus leitos. Restam vestígios sujos de uma cidade pouco educada. Para além dos novos montes de terra que se formaram nas encruzilhadas, o lixo é algo assustador. Tudo se encontra espalhado estrada fora: roupa, calçado, plásticos, panos, borrachas, papeis, lixo orgânico, ramos, folhas e pedras. As sarjetas estão entupidas de terra e de lixo. A cidade fica feia e imprópria.


O serpentear obrigatório 


Estrada coberta de terra vermelha
É hora de accionar as escavadoras para com muita calma tentar retomar a paisagem conhecida e fazer da cidade de Maputo, transitável.         


Reabilitação da estrada
Mas remediar não é resolver e às próximas chuvadas, teremos o mesmo cenário inacreditável que transfigura esta bonita cidade das Acácias.


CSD

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