ALHAMBRA - Granada



Qal'at al-hamra

Alhambra vista do Miradouro de San Cristobal
Resguardada pela Sierra Nevada, a montanha mais alta da Península Ibérica, a cidade de Granada dorme numa depressão. O rio Genil confere-lhe tal estado. Cheia de salero, contormou o destino e é hoje uma cidade turística e efervescente. Respira vida, alegria e tradição secular. Toca a espiolhar!

Munidos de passes culturais, alguns com horas pré marcadas, iniciámos o dia com um périplo, uma viagem de hop-on para aguçar o apetite. Atentos à explicação do guia auricular em mono, fomos registando o que realmente merecia uma visita posterior. E muito haveria para ver nesta cidade do século VIII de traça moura, cujo governo da dinastia nacérida de 1238 sob o jugo do Sultão Alhamar, se encarregou de a projectar para o estrelato. Foi cidade importante de artesãos, mercadores, eruditos e cientistas cuja intelectualidade a colocaram no mapa internacional da cultura. Em 1492 é conquistada pelos reis católicos Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela que continuam o legado do progresso, embora banindo os mouros da equação! A rendição do Sultão Boabdil deu início a outra era.  
El conjunto monumental de La Alhambra y El Generalife
Esta obra muçulmana caracteriza-se pelos seus interiores imponentes, decorados com arte islâmica pontuada por estruturas cristãs do século XVI. Começou por ser pertença da Dinastia nacérida que a moldou como cidade palaciana. Depois o estilo granadino da arte Andaluza do século XIV forrou-a com arabescos minuciosos. Em 1492 acabou o domínio muçulmano e entram os reis católicos Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela que a transformam em Palácio Real. Carlos V em 1516 resolve acrescentar um estilo renascentista e contemporâneo e mais tarde em 1700, Filipe V pincela-a com um estilo italiano mesmo no centro do antigo edifício mourisco. Chegam os franceses em 1812 e arrasam torres! Se hoje podemos deambular por esta caixa de surpresas, muito o devemos a um soldado francês, que desobedecendo a ordens de Napoleão, desactivou alguns dos explosivos estrategicamente posicionados para rebentar com tudo! Em 1821 um sismo causou mais estragos obrigando, sete anos mais tarde e sob o jogo de Fernando VII, a um intenso trabalho de restauro. 


Granada vista de Alhambra


Após um almocinho agradável no coração do passado, já no alto da colina de La Sabika,  entrámos no El conjunto monumental de la Alhambra, Generalife e Albaicín. Uma imensidão de cultura carimbada como Património Mundial da UNESCO.

Observada no mapa é uma língua de casarios e jardins num complexo palaciano e de fortaleza, ordenada no tempo das vontades soberanas nacéridas e para impressionar o mundo. Um agradecimento especial aos califas Ismail I, Yusuf I e Muhammad V, pelo legado hoje perpetuado. Com o seu próprio sistema de muralhas e serviços essenciais, Alhambra "a vermelha" era independente de Granada. Os materiais utilizados na sua edificação não seriam os mais nobres mas as mãos de quem os trabalhou conferiu-lhe uma dignidade sumptuosa. Tijolos de tapica, feitos de argila e gravilha e secos ao sol, foram a base para os alicerces deste refugio de artistas e intelectuais durante as vitórias cristãs.    

Pórtico com arabescos

Janela com arabescos
A decoração é diferente a cada passo dado. Folhagens brutas, inscrições árabes e padrões geométricos, azulejos pintados forrando painéis de parede, pátios solarengos com figuras animalescas, fontes de água e jardins labirínticos... um deambular noutra era.  

Patio de Arrayanes
A presença de água,  cuja utilidade iria sempre mais além da sua função, é um elemento característico nesta "pérola encastrada em esmeraldas". Aqui observamos o reflexo da torre de Comares, e do seu imponente arco moçarabes. Esta porta dá acesso à Sala da Barca e nela os seus incríveis estucados. No escudo nacérida lê-se "Só Deus é vencedor". Pena a penumbra interior das salas que, apesar de lhe conferir uma aura mística, estraga-me as fotos!   
Jardins
Palácio de Comares
Se cá fora impera a paz e a tranquilidade vinda do soar dos repuxos, lá dentro somos abraçados pela poesia a pela arte avassaladora. O Salão dos Embaixadores é a sala mais alta e mais ampla do Palácio. Aqui decorriam as importantes audiências privadas do Sultão e seus ilustres convidados. As reentrâncias na pedra serviam de assentos, que sob tanta arte poética inscrita, eram seguramente fonte de inspiração para acordos profícuos. Cada centímetro de parede está coberto por um elemento decorativo. O nome de Alá, louvores a Deus e ao Emir, fragmentos inspiradores do Corão, tudo nos aprás ver nesta sala magnifica sob um tecto único de forma cúbica, representando os sete céus da cultura muçulmana e cravado por 105 estrelas.  

Salão dos Embaixadores
Ninguém fica indiferente a este aglomerado de arte. São pedras trabalhas por mãos mágicas que parecem panos rendilhados de artesãs. É maravilhoso perceber esta simbologia, onde o trabalho bruto e minucioso se envolve tão bem com a simplicidade da luz que teima em entrar. Este lugar é uma pérola histórica com recantos que contam a histórias passada e que farão sempre parte da história futura.  

Teto da Sala de Los Abencerrajes

Segundo a lenda, esta maravilha arquitectónica cujo padrão geométrico representa o Teorema de Pitágoras,  esconde sob o seu teto um dos assassinatos da época. Boabdil (Maomé XII de Granada), o 22º e último rei nacérida de Granada ofereceu, num gesto cínico de paz, um banquete à família nobre rival, os Abencerrajes. Como sobremesa ofereceu-lhes a morte e o nome no salão para a eternidade. Em 1492 foi obrigado a entregar o reino aos Reis Católicos Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela e a ouvir uma reprimenda de sua mãe: "não chore como uma criança por aquilo que não soube defender como homem". A sabedoria materna é acutilante!


Recanto deslumbrante
Seguiu-se o Pátio de Los Leones. Construído em 1377 por Maomé V, este pátio revela-se uma lufada de ar fresco na imensidão de pormenores arabescos que nos sufocam a cada passo. Este espaço aberto de 124 colunas de mármore branco representa a ideia muçulmana do paraíso. 

Sala exterior do Patio de Los Leones

Das salas saem 4 riachos que confluem para uma mesma fonte representando os 4 rios do paraíso. Nela estão 12 leões que foram retirados a um vizir judio com aspirações a ser maior que o próprio Rei! O significado é dúbio. Há quem defenda que representam as 12 tribos de Israel do século XI ou, que são a representação dos 12 signos do zodíaco ou ainda que podem ter um significado político ligado ao Rei Salomão, conhecido como o Rei arquitecto. Para a história fica um símbolo paradisíaco que alude à fonte mais importante da vida (água) e aos 4 rios do paraíso.     

Patio de los Leones


Palácio del Partal - Tore de Las Damas
El Partal é uma das zonas mais modificadas no século XX. Foi mandada edificar por Muhammad III e pertence a um conjunto de edificações árabes. A Torre de Las Damas é provavelmente um dos edifícios mais antigos de Alhambra. 

Entramos na Generalife (o jardim do paraíso elevado) já fora das muralhas de Alhambra mas ainda dentro do espaço palaciano. Era o local de recreio dos Sultões nacéridas e a horta lá do burgo. Os Jardines de Bajo, El Palácio del Generalife, o Patio de la Sultana, a Escalera Del Agua e os Jardines Altos compõem este espaço apaziguador e de recreio.


Igreja de Santa Maria de La Alhambra vista de Generalife


Regressámos ao interior das muralhas. Impossível ficar indiferente a um edifício de tamanha envergadura. O Palácio de Carlos V é um símbolo futurista. Desenhado pelo arquitecto Pedro Machuca, foi construído em 1527 com linhas muito inovadoras para a época. 

Palácio D. Carlos V

Podemos apreciar colunas dóricas e jónicas, frisos com cabeças de touro de tradição greco-romana, pautado por um maneirismo italiano, com uma fachada renascentista num misto de toscano e barroco. Pura arte. Já o seu interior parece inacabado, despido de tudo o que a fachada poderia fazer aspirar. 


Patio do Palácio de Carlos V

Segue-se a área militar de Alcazaba cuja função era claramente defensiva. Situada numa ponta do Conjunto Monumental de Alhambra é composta por muros e torres e apresenta-se como fria, bruta, seca.  


Alcáçova

E assim se desvenda no século XXI este sítio histórico fundado por Abu Alahmar (Maomé I) mais conhecido por "o ruivo". Este foi o primeiro governante do Emirado de Granada no último estado muçulmano independente da Península Ibérica e fundador da dinastia dominante de nacérida. Mas Granada tem mais e para lá caminharemos.

Alhambra ao por do sol. Mágica.
CSD

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