RUMEI A ROMA
O motivo; 30ª conferência da EUFASA, onde mulheres como eu desbobinam preocupações e realidades na esperança de que a nossa vida de "mulheres" itinerantes e polivalentes seja finalmente reconhecida. Às conclusões, regressaremos num próximo post.
Aeroporto Leonardo da Vinci |
"Chef Express" era o ponto de encontro no aeroporto Fiumicino e o primeiro passo para o transfere de 40 minutos que me levaria rumo a Roma. "Dominguez" estava esparramado em letras gigante numa papeleta empunhada por um típico italiano. Alto, magro, moreno, de barba cerrada e.... antipático.
- "Carla Dominguez?", disse ele, olhando para mim. Os latinos conhecem-se bem!
- "Yes", respondi eu.
- "Portoghese? allora parlare italiano!"
e num veloz chorrilho de palavras cantadas, explica-me como se processa "aquilo" do transfere. Com uma mímica desdenhada, percebo que tenho de me juntar a um grupo de outros empandeirados anteriormente e destinados à mesma sorte. Em pé, tentámos trocar umas palavras, desta feita em inglês, pois os meus futuros acompanhantes no transfere eram canadianos e escoceses. Aos 10 minutos iniciais de espera programados pelo italiano, juntaram-se mais 40 minutos! Itália sem máscara!
Finalmente, aproximou-se o nosso motorista, numa passada calma e descontraída. Com sinais automatizados percebemos que teríamos de o seguir alguns metros até ao transfere estacionado no parque do aeroporto. Chegada à carrinha, lembrei-me (intuição talvez!) de perguntar:
- "Pago-lhe directamente a si e você dá-me o recibo?"
- "Eu não tenho recibos."
- "Não tem recibos?! Mas eu necessito de um recibo agora! Como faço?"
- "É lá no escritório."
Olha com quem!!! Sem o saber, aquele italiano disparou o meu sensor de teimosia e voltando-me para os ocupantes pedi mil desculpas e lancei-me a correr de volta ao aeroporto para solicitar o recibo. Percebi que era hora de almoço. Todos os funcionários daquele guichet empunhavam as suas sandochas e de boca cheia uma rapariga fez-me sinal de que eu poderia falar. Apresentei o caso e para meu espanto ela disse-me que o recibo era passado pelo motorista! Já sem paciência e sem vocação para pombo correio, coloquei a minha faceta menos nobre e aqui vai disto! Ela desatou aos gritos: "wait, wait!!". Eu nem queria acreditar!!! Uma miúda no meio do aeroporto aos gritos comigo!!! Telefonando sabe Deus para quem, e percebendo que a conversação comigo seria no mínimo difícil, passou-me o telefone. Em tom contrariado a signora do outro lado da linha lá me pediu o email e prometeu enviar-me o recibo. Numa atitude de igualdade, atirei com o telefone para cima do balcão e virando costas lançei-me novamente numa corrida sprint, cheia de remorsos por ter feito esperar aquelas almas que só queriam férias italianas!!
Chegada à carrinha, o motorista com a maior cara de pau e com um sorriso que só os italianos dominam, perguntou-me:
Chegada à carrinha, o motorista com a maior cara de pau e com um sorriso que só os italianos dominam, perguntou-me:
-"Já tem o recibo?"
Ai meu Deus!! Acho que nunca falei inglês tão depressa!
- Elas disseram que você é que TEM de passar o recibo. Como quer que lhe pague se não me dá um papel?". Mesmo arfando, cada palavra levava veneno na ponta!
Sem comentar, o motorista fechou as portas com um estrondo tal, que os ocupantes tiveram medo!! E até eu!! A longa viagem decorreu num silêncio medonho mas sem incidentes e os passageiros foram sendo "depositados" nos seus destinos. Chegou a minha vez:
- "Dominguez, prossimo"
- "Certo", respondi eu com a pior cara que me conheço.
Já na rua da nossa maravilhosa residência, saindo da carrinha para me tirar a mala do porta bagagens, o sr motorista trazia na mão um papel!!
- "Tenho aqui um recibo que serve, é da mesma empresa", e rabiscou o montante, meio escondido dos restantes ocupantes. Não fossem eles pedir um também!!
- "Afinal!!!!!" respondi eu em bom português (moçambicano), e pegando na minha mala, dei-lhe os 25€ acordados.
"Paura" de não ser pago!!! Tuga um, italiano zero.
Já sozinha, respirei fundo e olhei em redor. Na Via de S. Valentino e numa pequena subida, um portão majestoso engalanado com as nossas insígnias e a bandeira mais linda do mundo! Já em solo português admirei aquele espaço soberbo, magnifico, sumptuoso que é a nossa embaixada junto do Vaticano. A simpatia dos funcionários é evidente contrastando com a grosseria de há poucos minutos atrás!! Os salões, as salas, os espaços dissimulados, os jardins, as flores, a escadaria, a imponência daquelas figuras, daqueles tectos, daqueles lustres, daquelas tapeçarias, daqueles quadros, de tudo..... um mundo de história secular. Uma pérola do nosso património.
Olhando para o relógio percebi que tinha perdido a oportunidade de fazer o tour pela baixa de Roma com as delegadas da Eufasa! Tudo por culpa daqueles italianos!
Enfim, descomprimi e usufruí daquele fim de tarde, daquele espaço e da calmaria impensável no meio de Roma. O dia terminou com um jantar simpatiquissimo oferecido a mim e à Veronika (também delegada à Eufasa) pelo embaixador e embaixatriz de Portugal junto da Santa Sé.
Enfim, descomprimi e usufruí daquele fim de tarde, daquele espaço e da calmaria impensável no meio de Roma. O dia terminou com um jantar simpatiquissimo oferecido a mim e à Veronika (também delegada à Eufasa) pelo embaixador e embaixatriz de Portugal junto da Santa Sé.
Embaixada de Portugal junto da Santa Sé |
Jardim da Embaixada |
Segunda feira despertou solarenga. O "Palazzo della Farnesina" (MNE italiano) acolheu as 24 delegações numa conferência animada e descontraída, bem ao jeito italiano!
Palazzo della Farnesina |
Delegação Portuguesa |
Debatidas questões pertinentes, pudemos escutar testemunhos e desempenhos das nossas congéneres, assistir a workshops e fazer um mini tour pelas salas do Palácio descobrindo a cada recanto, arte. Bom, confesso que esperava uma arte diferente, pois parece que o Palácio está a ser povoado de peças valiosas... Sendo a arte subjectiva, fico-me por aqui!
Arte na Farnesina |
Arte na Farnesina |
Arte na Farnesina |
Arte na Farnesina |
Arte na Farnesina |
Palazzo Villa Madama |
Palazzo Villa Madama |
Chegadas à Villa certa, à nossa espera estava um fantástico coro acompanhado de uma maravilhosa orquestra.
Seguiu-se um bom jantar acompanhado pela já tradicional canção em verso feita pela delegada holandesa Maria, sempre acompanhada por um coro afinado.
Coro da Eufasa |
O segundo dia já cheirava a partida. Na última manhã de conferência foi apresentado por mim um testemunho sobre o tema "The new role of Contemporary Diplomatic Spouse". Compilando opiniões e experiências, foi interessante dar a conhecer às várias delegações a realidade portuguesa e os objectivos num futuro, que se quer próximo.
Terminado o almoço de despedida no chiquíssimo Club Circolo del Ministero, rumei ao aeroporto sem mais percalços. Deixei uma Roma solarenga e amena e aterrei numa Lisboa chuvosa e fria. Quem diria!!
So long, farewell, auf Wiedersehen, good bye, até RIGA (Letónia)
CSD
Nota: Afinal sempre enviaram o recibo por email! Há falta de um....
Mulher de diplomata sofre... :)
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