OPA !!

O voo no Columbano Bordalo Pinheiro foi nocturno, entorpecedor, injectando-nos logo um cansaço impróprio para quem se desloca à descoberta de um novo território. Interrupções constantes num sono já de si atabalhoado questionam-nos sobre a utilidade de comer carne de vaca guisada com salada russa às duas da madrugada e vendas a bordo às três!!! Nestes voos só se devia dormir!

"Kalimera" 
À chegada, Atenas saúda-nos ainda na sua alvorada, já disposta a fazer-nos sofrer com o seu calor lapidante e o seu sol incandescente. Da terra saíam labaredas dançantes, translúcidas, que abraçavam as nossas pernas e queimavam os nossos pés. Do ar, picavam-nos os raios de sol, inclementes, fazendo-nos suplicar por uma sombra ou abrigo. E a aventura começou.
Akropolis (vista do hotel Amalia)
O primeiro dia, ou o que restou dele, foi passado a descobrir Atenas, concretamente a zona de Syntagma, local escolhido para repousar no Hotel Amalia. Muito bem localizado, este porto de abrigo é o local ideal para explorar Atenas moderna. 


Parlamento
O Parlamento, edifício mundialmente conhecido por razões menos dignas e mais atribuladas, foi a nossa primeira paragem. O render das sentinelas, dos soldados Evzone foi cativante, e mesmo o sol escaldante das 15 horas não esmoreceu os nossos sorrisos ao vislumbrar aquele ritual estranho, num misto de saias de 400 pregas a bailar, pompons negros a abanar e sapatos a raspar o solo. Mesmo em frente ao Túmulo do Soldado Desconhecido, estas hirtas estátuas humanas deixavam-se fotografar ao lado de quem assim o desejava. 
Soldado Evzone (gigante!)
Seguiu-se uma caminhada pelo interior refrescante do Jardim Nacional e a descida da Irodou Attikou, onde uma multidão de repórteres e jornalistas aguardavam revelações e conclusões de uma reunião na Residência Oficial do Primeiro-Ministro. 


Entrada no Jardim Nacional
Impresa junto à Residência Oficial do Primeiro-Ministro
Mais abaixo, encontrámos o "Kalimarmaro", estádio Panathinean, e mais à frente, o Templo de Zeus Olímpico. 
Estádio
Estádio


Estádio Kalimarmaro
As 16 imponentes colunas anteviam o que outrora terá sido um culto grandioso ao Deus Zeus.  
Templo de Zeus
Numa lateral encontrámos o Arco de Adriano, concluído por este imperador em 124 d.C cujo objectivo era separar a cidade dos Deuses da cidade imperial, a realidade moderna. 


O Arco de Adriano
Com um calor que não dava tréguas, acabámos o nosso meio dia em Atenas a jantar num dos restaurantes na praça Syntagma, cheia de nacionais e estrangeiros que seguramente traziam a crise bem guardada no bolso!


Hotel Amalia - vista Parlamento
O Porto de Piraeus foi o destino na manhã seguinte. Esperava-nos um passeio marítimo pelas Lendas do Égeu a bordo do Cruzeiro Louis Olympia. O programa prometia e qual navegadores à descoberta de novos mundos, embarcámos. 


Porto de Piraeus



Ensaio de segurança a bordo
Duas piscinas salgadas, vários restaurantes, casino, salas de espectáculo, discoteca, bares e cafés, lojas, ginásios, espaço beleza, espaço criança e um sem número de outros interesses estavam à nossa disposição durante os próximos quatro dias. 


Cruzeiro Louis Olympia
Cruzeiro Louis Olympia
E o camarote? Uma agradável surpresa. Duas camas individuais e um beliche fizeram as delícias do marinheiro mais pequeno. Com o espaço suficiente para repousar e toda a privacidade, sentímo-nos em casa.
A bordo do navio Louis Olympia já no mar Égeu
Com um navegar sereno e seguro fomos deslizando àguas dentro e aproximando-nos de uma das mais pequenas ilhas do grupo Cyclade - Mykonos e a primeira das ilhas por descobrir e explorar. Esta famosa ilha é bem conhecida daqueles que sendo diferentes, se unem neste ambiente de iguais, fazendo com que a discriminação e hostilidade fiquem ao largo, no mar alto.


Mykonos - vista do porto
Mykonos (vista lado contrário)
Mykonos (Little Venice)
Mykonos
Pelicano gigante em Mykonos
Mykonos
A tarde ía avançada e foram necessárias poucas horas para assimilar-mos a beleza branca das habitações, os apontamentos azuis das cúpulas, os moinhos ao alto e a praia de areia grossa e água tépida. O por do sol forçou-nos o regresso ao navio. A primeira bandeirinha estava afixada. O jantar foi a bordo num dos restaurantes do convés e a noite passada nas nossas camas marinheiras, num sono embalado.


Porto de Kusadasi - Turquia
No dia seguinte despertámos num novo destino: Kusadasi (Kuşadası) na Turquia. A estada de apenas cinco horas em terras turcas obrigou-nos a fazer escolhas e perante as sugestões diárias do nosso navio, optámos por fazer um mini tour em direcção a Ephesus, numa distância de apenas 15 quilómetros do porto. Juntamente com uma família de portugueses igualmente embarcados mas noutro navio, fizémo-nos á estrada e rumámos a uma tempo passado.  


Porto de Kusadasi
Castelo ao lado do porto
Kusadasi vista do porto
A primeira paragem foi no Monte Coressos, na Casa da Virgem Maria. Confirmada pelo Papa como sendo a casa onde a Virgem passou os seus últimos anos, a pequena habitação revela-nos um interior sereno e a presença Dela quase se percebe, se sente.  Passamos a porta de entrada com um misto de curiosidade e atravessamos a porta de saída com a serenidade no coração. 


Casa da Virgem Maria
A água que brota das várias fontes pendentes do muro imponente tem um elixir próprio: quem a torneira quiser abrir terá de escolher entre a água da saúde, da felicidade, e do amor. O meu cantil verteu de saúde, pois amor e felicidade ainda tenho armazenados.  


Muro de pedidos e fé
Mais à frente e encravados nas ranhuras do muro, fitas de várias cores armazenam pedidos e suplicas em várias línguas. É um lençol predominantemente branco que perpetua a crença ao longo dos tempos.


Ephesus
E chegámos lá: o museu Ephesus. O calor era quase sofocante. O branco reflectia nas pedras tolhendo-nos a visão. As poucas sombras estavam ocupadas pelos outros exploradores e a nossa pele gritava por protecção. O guia começou a sua explicação enquanto nos embrenhávamos na multidão e nos restos do que outrora foi uma civilização inteligente e empreendedora. 


Museu Ephesus
Caminhando, fomos sendo despertados para pormenores e histórias de uma era passada que muito nos ensinou e delegou. Este museu a céu aberto, jóia da arqueologia de Ephesus e Anatolia,  ostenta peças de escavações em Ephesus, peças da Basílica de São João e do Mausoléu de Belevi, bem como de escavações nos arredores. Esta história viva passeia-nos de 4000 aC até ao período Otomano. 


Estátua moderna!
As estátuas ainda imponentes de deuses, imperadores e famílias mostram-nos curiosidades e vivências impensáveis nos tempos actuais, as quais nos consciencializam da evolução fulgurante da história. Bom, nem todas.....
Fachada da biblioteca
De regresso ao navio, paragem obrigatória numa loja e armazém de cabedais, cujos preços para turistas nos afastaram rapidamente. Foi bonito de ver mas, ficámos por isso mesmo!

As amarras foram levantadas, a Turquia ficou para trás e o navio voltou à sua marcha silenciosa. A banhoca na piscina impunha-se para retemperar forças. O almoço foi revigorante e o regresso às ilhas gregas o próximo destino.

Patmos, esta pequena ilha em forma de cavalo marinho é de origem vulcânica e as suas praias de areia grossa e pedras escuras. 


Patmos vista do mosteiro
Patmos vista do mosteiro
Chora, a capital de Patmos, ostentava no cimo do monte o seu Mosteiro de São João, fundado por Santo Christodoulos em 1088. Um vento rebelde amparou-nos na penosa subida e a longa escadaria conduziu-nos à Capela dos Apóstolos datada do século XVII. 


Escadaria do mosteiro
Capela dos Apóstolos
Mosteiro de São João
O Mosteiro contém três dos mais importantes tesouros culturais da Igreja Ortodoxa: a biblioteca, os arquivos e o tesouro. Percorrendo as salas escuras e os átrios luminosos, fomos descobrindo a cultura de um povo e as paisagens magnificas sobre o Mar Egeu. A descida fez-se de taxi, o mesmo que anteriormente nos tinha transportado para cima, a nós e mais um casal de austríacos que envergando os seus trajes típicos, se encaminhavam para uma celebração matrimonial. 


Patmos
Já no sopé, passeamos pelas ruelas típicas e descansámos na praia aguardando o regresso ao navio. Patmos estava explorada. 



Praia - Patmos
Mais um jantar no navio desta feita no restaurante Seven Seas. A pacatez de outrora começou a ser beliscada e a ondulação começava a fazer-se sentir naquele imenso navio. Os líquidos dentro dos copos bailavam ao ritmo das ondas e o meu estômago também. Apesar do belo espectáculo grego e dos comprimidos anti enjoo, o meu ponto de equilíbrio começava a ser afectado e uma noite atribulada esperava-se. E aconteceu! 


Santorini
Acordámos já em Santorini, a última ilha a ser visitada. De origem vulcânica, esta ilha conheceu a sua primeira erupção em 236 aC e a última em 1926. Como não permite a atracagem dos navios, o transbordo é obrigatório. Com um pequeno almoço reduzido para evitar males maiores, a travessia não foi pacifica. 


Chegada a Santorini (meia enjoada!)
Chegada a terra firme, pisamos Thira (Fira), a capital. Várias são as maneiras de ascender à vila, bem edificada no cimo do monte, a 1.916 pés de altitude. Ou iniciamos uma marcha penosa, engolindo 587 degraus, ou encavalitamo-nos no dorso de um burro e fazemos toda a ascensão aos solavancos e com o aroma natural do ruminante, ou sentamo-nos confortavelmente no banco do teleférico e subimos rapidamente contemplando a paisagem. Apesar do meu marido ter arriscado a ideia do ruminante, o bom senso (e o preço) falaram bem mais alto!
Burros na rua de Thira
Chegados lá a paisagem corta-nos a respiração. Numa mistura perfeita de branco, azul e vulcão os nossos olhos deambulam de ponta a ponta, de cúpulas a ruelas, de jardins a piscinas. 
Vista de Santorini
Santorini
Tendo em conta uma vez mais as indicações do roteiro do nosso navio decidimos ir a Oia (Οία, em grego lê-se Ía) noutra excursão com guia. Após uma curta viagem num mini bus, entrámos em Oia. As ruelas são estreitas, típicas, brancas, efervescentes de comércio tradicional. 

Vista Oia (direita)
Vista Oia (esquerda)
Cada explicação era acompanhada de uma paragem e uma perspectiva diferente da ilha. O sol, inclemente para a nossa pele, dáva um brilho magnifico a cada casa, a cada história e principalmente ao mar. As outroras casas consideradas ricas, dos comerciantes que aproveitavam a excelente posição da ilha para as trocas comerciais, são hoje ocupadas pelos antigos pobres (ou menos ricos), que aproveitaram o fim do apogeu e o declínio dos ricos para melhorarem as suas vidas. De grutas escavadas no solo vulcânico, onde a temperatura constante rondava os 19 ºc todo o ano, passaram a habitar mansões com vista de mar e horizonte. 
Oia
Oia
Com esta e muitas outras curiosidades a manhã passou depressa e encontrámo-nos novamente em Thira para almoçar.  


Vista do restaurante
Apanhando o autocarro local rumámos ao passado: Museu Arqueológico de Akrotiri.

De brochura na mão, sob um telhado quente de zinco, seguindo os passadiços e as setas entrámos na civilização Minóica, já de si construída sob as ruínas de um monumento antigo que data da época Cicládica. Os vestígios de cerâmica encontrados, a construção das casas não podem deixar-nos indiferentes, e obrigam-nos a constatar que desses tempos até aos dias de hoje, nada se inventou, só se aperfeiçoou. Valeu bem a visita. 


Ruínas de Akrotiri
Ruínas de Akrotiri
O resto da tarde foi passada a explorar Thira, cada recanto, cada paisagem, cada esplanada. E depressa chegou a hora de regressar ao navio, para o fim do nosso cruzeiro. 


Thira
Thira
Thira
Thira vista do teleférico.
Uma vez mais a travessia rumo ao navio não foi meiga e a embarcação bailou acima e abaixo para alegria de muitos e temor de alguns!! EU!!

Já a bordo, a noite revelou-se mais pacifica. O espectáculo de magia num dos salões fez de mim "ajudante de mágico" por alguns minutos. Até hoje estou sem saber como fiz uma mesa levitar! 
Magia
A última noite flutuante foi acolhedora embora tenha ficado provado que a minha veia de marinheira não é grande coisa!! 


Por do sol em Santorini, na última noite no navio
E pronto, Porto de Piraeus à vista bem como o fim do nosso cruzeiro. Deixámos o navio Louis Olympia e o passeio pelas Lendas do mar Égeu com a satisfação de missão cumprida. 

Já em terra e manhã cedo, subimos no autocarro Citysightseeing (sistema hop on/hop off) de regresso a Atenas para mais três dias de exploração, que ficarão para contar em próximo post.


E já agora OPA! é uma exclamação muito utilizada pelos gregos, que significa contentamento, felicidade e alegria.  

CDS   

Comentários

  1. Excelente reportagem!
    Estou a pensar fazer exatamente este "pacote", mas com saida de Creta e não de Atenas....como também não sou grande marinheira e o meu estomago muito fracote..temo que o cruzeiro poderá por acabar por ser uma má opção....mas que fico com "água na boca" com o report...fico sim!
    Apanharam mau tempo, ou o barco é pequeno e sente-se muito a ondulação?
    Obrigada
    P.T.

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  2. Cara leitora, obrigada pelo comentário.
    O navio Louis Olympia nada tem de pequeno e é muito seguro, mas há uma travessia que apanha um cruzamento de correntes que de facto é um pouco difícil, principalmente depois de jantar!! A pequena viagem para Santorini também foi difícil por causa do vento, mas o mar é isto mesmo. Voltaria a fazê-lo porque foi uma viagem maravilhosa. Até à próxima.

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