UMA CIDADÃ ATENTA

A crise está aí, e veio para ficar. Sente-se, cheira-se, prova-se, teme-se. 

As famílias andam tortas nestes tempos conturbados. São as voltas da poupança que enrolam as mentes desesperadas. O dinheiro, esse pecado sem moral, está cada vez mais caro e raro. Esticar não estica, crescer não cresce. As notas outrora despachadas sem apego, permanecem hoje mais tempo nas mão de quem as tem. E custa muito vê-las partir! Contadinho anda ele. 
Tem de chegar, tem de dar, tem de ser.

O pequeno almoço outrora reservado no café conhecido é agora dentro de portas. O almoço vai na lancheira em jeito de marmita e quer-se leve, escondido na palavra "saudável". O lanche são as bolachinhas daquela marca mais branca que lixivia e o jantar, esse, são os restos dos dias em que a fartura andou por ali. 
Tem de render, tem de dar, tem de ser.

A moda, essa deixou de ter seguidores. A roupinha veste-se sem preconceitos. Tudo o que esteve guardado e até quase dado, é aproveitado. Conjugam-se feitios, cores, acessórios e o diferente passou a ser moda. Os pés reclamam glamour, mas é comodidade que se lhes oferece. Solas, meias, capas e mais um ano a andar. 
Tem de se estafar, tem de dar, tem de ser. 

A alimentação mudou. Carrinhos cheios, de rodas tortas e rumo difícil, não aparecem mais. As compras para o mês, fazem-se à semana, contando o que se tem. Saudável passou a ser comer menos e até o pão já não conhece fartura. O quilo deu lugar ao meio, a fruta só da época, o peixe é carapau e a carne é suína, bicho que tudo dá, nada se perde, tudo se transforma. As aves ocupam lugar de destaque mas são as suas miudezas as grandes vencedoras.
Tem de se racionar, tem de dar, tem de ser. 

E em casa as lâmpadas reduzem-se, os banhos encurtam-se, os electrodomésticos desligam-se. É a luz natural que se aguenta até ao entardecer. É a manta que se coloca nas pernas frias para aquecer sem pagar. É o jornal que se lê oferecido na paragem.
Tem de se cortar, tem de dar, tem de ser.

E o resto? Os transportes dividem-se com amigos, as escolas privadas mudam para públicas, as horas nos ginásios fazem-se agora ao ar livre com caminhadas revigorantes, os livros novos são agora os dos antigos alunos, as chamadas telefónicas passam a mensagens e as unhas arranjam-se em casa. 
Tem de se mudar, tem de dar, tem de ser. 

Há quem escape, mas todos seremos punidos pela vida de ganância, ostentação e imoralidade vivida durante tempo a mais. Os sorrisos vão virar caretas, a bondade vai tornar-se egoísmo, o credo vai roçar a blasfémia e o homem vai apodrecer. 

Preparem-se as almas, pois o futuro não é, nunca o foi e dificilmente voltará a ser... FÁCIL

CSD



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