AS ÚLTIMAS GOTAS DA NOSSA HISTÓRIA
O local onde agora crescem dois grandes prédios é cheio de história. Foi, durante muitos anos, a reprodução fidedigna de uma casa portuguesa. Pertencia ao clero. Rosa era a sua cor e a envolve-la um magnífico jardim verde, daquele verde da esperança. Mas a esperança acabou quando cabeças materialistas decidiram demoli-la. As máquinas impiedosas entraram naquele espaço religioso numa manhã qualquer de um mês que não importa recordar. Todos sentimos o impacto das primeiras pedras a cair. Tudo acabou em poucos dias. Uma amálgama de ferro retorcido, pedra partida, cal desfeita, pó em cinza, foi o que restou. Olhando agora para o local que em tempos albergou um mensageiro da minha religião, vemos uma estrutura de ferro e betão a crescer dia e noite sem dó nem piedade. Mas esta nostalgia não é só minha. Muitas foram as cabeças negras que abanaram em desagrado com o espalhar da notícia. Todos estavam habituados a olhar aquela simples casa como sendo sua. Todos conheciam o seu ocupante e estimavam-no. Agora vão ser dezenas de habitantes, desconhecidos e ricos. Sim, porque o valor médio de cada apartamento será comercializado acima dos 300.000 euros. Um simples terreno deu lugar a milhares de transacções e a somas avultadas. A religião ainda não pode competir com isto. Pelo menos a minha! Mas o curioso desta aventura é que a obra, a imponente obra, está a ser realizada por uma empresa portuguesa: a Teixeira Duarte. O destino tem destas coisas. Serão dezenas de empregados portugueses e locais que ficarão para sempre tatuados como apagadores de história.
Vista mar do Hotel Polana |
Ainda é manhã.
Sentada em frente destas teclas que contam histórias, vou escutando o barulho irritante e contínuo da construção de um novo edifício na cidade de Maputo.
O local onde agora crescem dois grandes prédios é cheio de história. Foi, durante muitos anos, a reprodução fidedigna de uma casa portuguesa. Pertencia ao clero. Rosa era a sua cor e a envolve-la um magnífico jardim verde, daquele verde da esperança. Mas a esperança acabou quando cabeças materialistas decidiram demoli-la. As máquinas impiedosas entraram naquele espaço religioso numa manhã qualquer de um mês que não importa recordar. Todos sentimos o impacto das primeiras pedras a cair. Tudo acabou em poucos dias. Uma amálgama de ferro retorcido, pedra partida, cal desfeita, pó em cinza, foi o que restou. Olhando agora para o local que em tempos albergou um mensageiro da minha religião, vemos uma estrutura de ferro e betão a crescer dia e noite sem dó nem piedade. Mas esta nostalgia não é só minha. Muitas foram as cabeças negras que abanaram em desagrado com o espalhar da notícia. Todos estavam habituados a olhar aquela simples casa como sendo sua. Todos conheciam o seu ocupante e estimavam-no. Agora vão ser dezenas de habitantes, desconhecidos e ricos. Sim, porque o valor médio de cada apartamento será comercializado acima dos 300.000 euros. Um simples terreno deu lugar a milhares de transacções e a somas avultadas. A religião ainda não pode competir com isto. Pelo menos a minha! Mas o curioso desta aventura é que a obra, a imponente obra, está a ser realizada por uma empresa portuguesa: a Teixeira Duarte. O destino tem destas coisas. Serão dezenas de empregados portugueses e locais que ficarão para sempre tatuados como apagadores de história.
E a nossa história perde assim mais uma prova da sua existência por estas terras.
Hotel Polana (frente) |
O Hotel Polana é mundialmente conhecido e outro exemplo de linchamento histórico. Após meses infindáveis de renovação, o hotel abriu finalmente as portas a todos aqueles que quiseram conhecer a nova cara. O edifício em si é majestoso. Por fora continua com a nossa traça. É belo, imponente, lindo. Todo ele transborda carisma. Por dentro, outra vida renasceu. A obra foi dispendiosa e toda ela a cargo dos chineses. Não digo que não se justificassem alguns reparos, mas o que se constata é a mudança total do seu estilo. A Fundação Aga Khan foi a mão financiadora dos trabalhos de remodelação. Preservar não deve ter sido a sua intenção, uma vez que Portugal desapareceu do seu interior. As nossas madeiras preciosas, o nosso mobiliário indo-português, as nossas tapeçarias, a nossa louça, etc, foram ceifadas juntamente com os escombros. A grande e majestosa escadaria, característica única em Moçambique, deu lugar a uma fonte exagerada que abafa uma das especificidades deste grande hotel: a vista de mar. A nossa esfera armilar, colocada em destaque na entrada principal do hotel, foi escondida por uma bola dourada e envolvida num ramalhete dum verde artificial. Para os mais nostálgicos ficaram algumas fotografias, bem emolduradas, que recordam as nossas naus e caravelas e o ano de 1922 como o início da obra. Para comprovar a grandiosidade deste feito, noutra fotografia datada de 1925 aparecem dezenas de empregados e metade do edifício erguido. A entrada do hotel, como comprova outra fotografia, fazia-se pela actual Av. Julius Nyerere, que era em terra batida e sem transito automóvel.
Uma análise sem sentimentalismos conclui que a decoração está bonita, muito distinta e elegante, mas quem o conheceu recorda com saudade a outra face do hotel mais caro de Moçambique.
Uma análise sem sentimentalismos conclui que a decoração está bonita, muito distinta e elegante, mas quem o conheceu recorda com saudade a outra face do hotel mais caro de Moçambique.
Hotel Polana (traseiras - vista mar) |
Hotel Polana (traseiras - vista mar) |
O progresso e a modernidade são uma inevitabilidade e só assim um país pode crescer. Exemplo disso são os muitos projectos que já se iniciaram e que vão modernizar esta cidade de Maputo. Para além do já antigo Prédio 33 situado na Baixa da cidade, estão igualmente previstos outros dois mega prédios, o Maputo Business Tower (com 47 andares) igualmente na Baixa e o Radisson Blu Hotel, situado na Av. da Marginal.
Radisson Blu Hotel |
Maputo Business Tower |
Mas a história, constitui parte dos alicerces desse crescimento e quando ela é arbitrariamente apagada, o país cresce oco e sem sustentabilidade. Não podemos pedir e muito menos exigir ao povo moçambicano que perpetue os nossos feitos, mas é muito bonito ver Portugal no seu apogeu.
Para um português que vagueia pelo mundo, é duro sentir que a célebre frase de Antero de Quental é cada vez mais verdadeira.
“Não há povo no mundo que tendo tido tantos tesouros, seja hoje tão pobre”.
CSD
Continua,pois escreves muito bem.
ResponderEliminarUm forte abraço.
ADRI