TASMÂNIA - YOUR NATURAL STATE




A Tasmânia é uma daquelas ilhas que enganam quando olhadas numa prespectiva  somente geográfica. O seu aspecto tímido e encolhido como é representada nos mapas face a um continente australiano gigante, leva-nos à certa!

Dispúnhamos de uns escassos 6 dias e com eles explorámos só o lado do "Tasman Sea" na costa leste. Necessitávamos de outros tantos dias para que o lado do "Southern Ocean" ficasse visto. Por alguma razão é a 26ª maior ilha do mundo! Um pretexto para voltar. 

Vista de Hobart a partir do Monte de Wellington

Aterrámos em Hobart num final de tarde de sábado. Uma calmaria de cidade de interior. Consta que esta ilha e suas cidades são muito especiais quanto ao seu clima, o que se veio a confirmar; um friozinho que nos acompanhou ao longo de toda a nossa estada, em pleno verão!

Hobart é a segunda cidade mais antiga da Austrália depois de Sydney. É uma cidade pequena, bem organizada, entalada entre o Monte de Wellington/Kunanyi e o Rio Derwent. A sua arquitectura é colonial e confere um ar simples às ruas e recantos.    

Vista da Doca da Constituição, a partir do barco MONA ROMA

Doca da Constituição em Hobart

Edifício do Parlamento

Edifícios históricos da época colonial

Harmonia arquitectónica




Praça de Salamanca

Praça de Salamanca

Domingo é dia de mercado e o de "Farm Gate Market" é visita obrigatória. Passeando ao longo da Bathurst Street sentimos o cheiro dos produtos biológicos e nacionais bem como a simpatia dos produtores "tassie". As cerejas da Tasmânia têm fama e bem a merecem. De tamanho considerável, são excelentes em sabor e textura. Quase, quase iguais às do Tio Nel (Fundão) ou às de Resende!

Mercado de Farm Gate

No mercado de Farm Gate rodeada de cerejas maravilhosas
A tarde estava no seu início e decidimos preenche-la com arte e cultura. MONA foi o destino escolhido, conforme recomendação dos guias da cidade.  A partida faz-se da marina de Hobart num ferry camuflado de seu nome MONA ROMA. O espanto de ver vacas e ovelhas num barco de travessia, antevia uma tarde animada!

MONA ROMA Ferry

A bordo do MONA ROMA Ferry

Chegada a Berriedale e ao museu MONA

99 degraus é o preço a pagar para o deslumbramento. Após a subida, entrámos num mundo onde tudo é estranho e ao mesmo tempo cativante, ficando uma vez mais demonstrado que a criatividade ou a loucura dos homens aliada aos dólares, concebem excentricidade!   

MONA é o "Museum of Old and New Art" e nasce de um capricho de um rapaz de nome David Walsh, um playboy, um jogador, um sonhador e principalmente um teimoso que acreditou ser possível transformar o seu pequeno museu de antiguidades, onde ninguém ia, numa obra megalómana hoje visitada por milhões de pessoas. MONA ocupa um espaço enorme em Berriedale, a norte de Hobart, e está ainda em evolução. Dividido entre espaços abertos e fechados este museu é sui-generis! Tem arte no exterior e no interior,  tem restaurantes, bares, palcos para concertos, cinema, jardins, escadarias e uma paisagem maravilhosa. 

Vista sobre o Rio Derwent
Ninguém ficará indiferente porque a nossa concepção de museu é totalmente aniquilada passadas as portas de entrada. Arte por norma é criatividade sim, originalidade também, é novidade, claro. Aqui, arte é loucura. É fazer do impensável algo palpável e inimaginável. É dar forma e conteúdo a coisas banais tornando-as excêntricas.   

Flatbed Truck, Trailer and Cement Truck (obra em ferro fundido)

Chapel (em ferro fundido com vitrais especiais)

Vitrais da Chapel (feitos com radiografias ... diferentes!)

Já dentro de portas e com sistema multimédia pendurado ao pescoço descemos uma escadaria em caracol que nos conduziu às entranhas da terra. Escavado literalmente na pedra este museu surpreende a cada passo. 

Museu MONA

Palavras formadas por gotas de água

Fat Car - Ferrari obeso

Cloaca Professional - máquina que é alimentada e que às duas da tarde, defeca!
Sim, com direito a odor e tudo! 

2 monochrome visions

Estatuetas nuas sem braços
Muitas são as obras curiosas com as quais nos deparámos nos 4 pisos que alimentam este museu. Manda a minha conduta moral que não as reproduza neste blog devido ao seu carácter provocatório e de cariz sexual! Se a ideia era chocar...bravo! Mas o ponto alto que representa o cúmulo da loucura é a imagem que se segue.

Tim e a sua tatuagem a qual será eternizada.
Tim é um homem, um humano de carne e osso, que tem dias específicos para expor o seu tronco nu no museu. Sentado num trono com vista privilegiada, Tim observa e é observado. A razão é simples: David Walsh propôs comprar a sua pele tatuada aquando da sua morte para que a tatuagem considerada especial ficasse eternamente exposta no MONA. Tim aceitou e enquanto a morte não vem, vai expondo a tatuagem viva a quem por ali passa. Quando Tim não está, está o cabide, para simbolizar o futuro. É muito à frente! 

O regresso a Hobart fez-se novamente a bordo do MONA ROMA, num trajecto fácil de 25 minutos. A nossa mente, essa, veio alucinada e intimidada com a exposição da raça humana! Mas ainda bem que há loucos que concebem obras destas!


Regresso a Hobart a bordo do MONA ROMA Ferry
Com a cidade quase vista e já na posse de 4 rodas, abalámos para a ruralidade, iniciando viagem pela famosa "Great Eastern Drive.

A primeira paragem obrigatória dista apenas 26 quilómetros da capital. Richmond é uma vila pitoresca representativa da mais antiga arquitectura colonial. A atracção principal é a mais antiga ponte da Austrália, feita de material local (arenito) e edificada pelo condenados (convicts) em 1823. Mais à frente a Igreja Católica datada de 1834,

Ponte Richmond


Igreja Católica
Deixámos Richmond e iniciámos a nossa caminhada em direcção à costa.  Raspins Beach em Orford deu-nos a primeira aragem de maresia. Uma vez mais uma praia deserta, tocada a ventania! Em Triabunna almoçámos e continuámos viagem. 

Raspin Beach com as montanhas de Hazards


Ravledon Beach
Mais algumas praias nos acenaram à direita e, sem esperar, à esquerda a indicação para a igualmente famosa Spiky Bridge. Mais um legado deixado pelos condenados datado de 1843. Muitas são as teorias que tentam justificar este aspecto bicudo da ponte. Desde protecção ao gado até erros crassos de construção, tudo serve para tentar justificar o aspecto estranho desta obra. Seguimos viagem com a dúvida no ar! 

Spiky Bridge
Finalmente chegámos ao primeiro grande destino: Coles Bay, uma vila piscatória inserida no Parque Nacional de Freycinet. Coles Bay fica numa língua estreita de terra virada a sul. Esta península é banhada por praias oceânicas e tem como enquadramento a imponente cordilheira das Montanhas de Hazards. O nome foi dado por um explorador marítimo francês.  

A praia de Coles Bay, uma vez mais, não convida a banhos mas a moldura enquadrada corta a respiração. Situada na Great Oyster Bay, é protegida pela imponente cadeia de montanhas graníticas de Hazards. Um quadro bonito.

Coles Bay Beach

Coles Bay Beach

Coles Bay Beach


O nosso companheiro de aventuras
Do outro lado desta língua peninsular e da cadeia montanhosa de Hazards fica a mais famosa de todas as paisagens: Wineglass Bay e o seu trilho "moderado" de 45 minutos montanha a cima. Marcado como imperativo na nossa agenda decidimos fazê-lo no regresso. Impunha-se o palmilhar de quilómetros restantes em direcção a Launceston.  

A segunda cidade mais importante da Tasmânia segue a mesma linha simplista e colonial da capital. É uma cidade harmoniosa, calma e com muita qualidade de vida. 

Correios

Edifício colonial


Harmonia arquitectónica

City Park
Uma das grandes atrações de Launceston é a "Cataract Gorge Reserve", situada a poucos minutos da cidade. O seu teleférico proporciona-nos paisagens magnificas sobre a Frist Basin (bacia de água), sobre a Ponte suspensa Alexandra, os trilhos exploratórios, a piscina recreativa e os seus jardins ideais para picnic. 

Cataract Gorge Reserve

Teleférico panorâmico
Numa viagem de 20 minutos (ida e volta) temos a panorâmica ideal de uma garganta resultante de um dos maiores tremores de terra alguma vez sentidos na Tasmânia. O Rio Esk aproveitou a deixa e, lentamente, foi ocupando a depressão criada enchendo assim a bacia.

Ponte Alexandra (suspensa)

Passadiço de ligação à ponte suspensa

De novo na estrada rumámos à costa. Bay of Fires aparece como uma lufada de ar fresco. Um aglomerado de pedras vermelhas banhadas a água cristalina. A tonalidade avermelhada das pedras é o resultado da união de uma alga e de um fungo. União de facto, pois ficará para a eternidade! 


Bay of Fires Beach

Bay of Fires

Bay of Fires

Bay of Fires

Binalong Bay ficou para trás e Bicheno o destino para mais uma noite de repouso. Juntamente com Coles Bay esta é uma cidade de veraneio das gentes da Tasmânia que procuram praia e temperaturas mais amenas. Mais uma cidade pequena, calma e bonita. 

Redbill Beach

Redbill Beach

Já em sentido descendente fomos percorrendo a Great Eastern Drive até à nossa já conhecida Freycinet Península. O dia estava convidativo e nós cheios de energia para explorarmos a Wineglass Bay. A subida é moderada, dizem eles! Faz-se por trilhos e escadarias engendradas pelo meio do mato, no interior da montanha de Hazards. Ao fim de 45 minutos de caminhada e 335 degraus toscos, chegámos ao miradouro.  Voilá!

Miradouro de Wineglass Bay

Wineglass Bay e Coles Bay

Trilho - a descer é mais fácil!
Mas caminhar pela Austrália profunda, pelo interior de uma Tasmânia que zela pela sua fauna e flora como ninguém e não ter um encontro imediato, não é natural. Lá pelo degrau número 192 eis que nos surge, a uma distância demasiadamente curta, a Black Snake! Nativa da costa oriental da Austrália é uma das mais mortíferas do mundo. Só podia!  

Red-bellied black snake

E depois das emoções fortes e do copo de vinho (Wineglass Bay) , seguiu-se a lua de mel! Honeymoon Bay é "a praia". Aqui sim, dá gosto apanhar vitamina D e refrescar as ideias nesta espécie de baía. Se bem o pensámos, melhor o fizemos: viva a banhoca!  


Honeymoon Bay

Honeymoon Bay

Banhoca na Honeymoon Bay

A foto da praxe!
Seguimos viagem para outro destino à beira mar plantado. Desta feita a exigência foi maior e o trilho sinuoso. Sleepy Beach é lá no fundo e de praia, tem muito pouco. Vale seguramente pela criatividade da natureza. 

Sleepy Beach

Sleepy Beach


Sleepy Beach

Sleepy Beach

Bem perto e ainda dentro do Freycinet National Park, outra atração recomendada. O Cape Tourville Lighthouse é um farol datado de 1971, cuja função era iluminar os trilhos e orientar os barcos que transportavam toros de madeira. Estando dentro da Parque Nacional, os Cangurus são presença assídua.

Cape Tourville Lighthouse

Vista do Cape Tourville


Os eternos adorados
Já em Hobart e depois de um merecido descanso, partimos para a Storm Bay onde a Bruny Island e Port Arthur são locais obrigatórios. 



No batelão em direcção a Bruny Island

Em Kettering apanhamos o ferry que em 20 minutos nos leva a nós e a cerca de 40 automóveis para a Bruny Island. Esta ilha é um paraíso para fauna e flora e para nós também. Pouco ou muito aventureiros, são 50 quilómetros de comprimento onde há seguramente muito para ver e fazer.  Nós optámos pelo cruzeiro de duas horas e meia, à volta da ilha com partida da Adventure Bay.

Na lancha rápida

De capas vermelhas impermeáveis e agasalhados até ao tutano, iniciamos um passeio maravilhoso. A paisagem é imponente e as explicações dos guias muito interessantes. De facto o mar tem poderes que a própria natureza desconhece!




O poder das rochas

A Nossa Senhora e um Rei a cavalo de um Lama!

E, prometido é devido! Como que em jeito de saudação, estas focas macho, iniciaram uma cantoria frenética e ensurdecedora. Ao sol, com as fêmeas noutra costa e sem grandes predadores com excepção dos tubarões, estes machos têm seguramente uma vida de sonho! 


Focas macho

E eis que de repente, somos saudados também por amorosos golfinhos. Está tudo previsto! A pureza destas águas e a conservação exemplar da natureza, só poderá dar resultados excelentes. Estão à vista! 



Golfinhos

E fomos também alertados para o voo do Albatroz. É uma das aves que menos bate as asas: plana imenso e isso é admirável.



O voo do Albatroz

De regresso a terra
Deixámos a Bruny Island e regressámos a Hobart. Do mar seguimos para o Monte de Wellington. As vistas sobre a cidade são de facto maravilhosas a partir dos seus imponentes 1.271 metros de altura. No inverno e porque a cidade é realmente fria, muitas das estradas são encerradas devido à neve. Um cheirinho a Serra da Estrela!



Subida ao Kunanyi / Monte Wellington 

Pinnacle Observation Shelter
Monte Wellington

Pai e filho
Deixámos Hobart ao entardecer e decidimos pernoitar em Port Arthur. São 93 quilómetros de estrada boa mas perigosa. A quantidade de animais mortos por atropelamento com que nos deparámos ao longo de todos os nossos trajectos, tornam-nos apreensivos. Apesar dos diversos avisos é ao entardecer que a vida começa para muitos dos animais nativos. Cangurus, Wombats, Diabos da Tasmânia, Coelhos fazem parte dos animais desafortunados. Ganham os corvos que, descobri agora, são necrófagos! Apesar de tudo, a natureza está muito bem feita.   


Embate de Canguru

Diabo da Tasmânia, com asas de Batman!

Alses nas montanhas

Pinguins nas zonas costeiras

O dia amanheceu soalheiro. Prestes a queimar os últimos cartuchos, deixamos o hotel e mesmo ao lado, entramos num dos ex-libris da Tasmânia: Port Arthur.


Port Arthur

Port Arthur foi estabelecido em 1830 como prisão. Funcionava como um campo receptor de toros de madeira, posteriormente trabalhada pelos prisioneiros e transformada em alicerces para a construção. Em 1833 foi estabelecida como centro correctivo para reincidentes vindos de todas as colónias australianas. Dois mundos dentro do mesmo espaço: os militares e os homens livres que viviam decentemente com as suas famílias e ... os condenados, eternos escravos.






Segundo o reformador penitenciário Jeremy Bentham, Port Arthur era uma máquina "onde se trituravam patifes e se transformavam em homens honestos". Esta transformação incluía disciplina, punição, educação religiosa e moral, classificação e separação, treino e educação escolar. 

Igreja


Jardins

Em 1840 a população total de Port Arthur atingia as 2.000 pessoas e estava transformada numa unidade industrial. Muito do que se consumia neste centro era produzido localmente. Em 1853 fechou-se o ciclo da deportação de prisioneiros passando de centro correctivo a instituição para prisioneiros idosos mentalmente e psicologicamente doentes. Em 1877 foi encerrada. Alguns dos seus edifícios foram vendidos, outros destruídos e outros ainda vítimas de intempéries. 

Ilha dos mortos
A fama de Port Arthur chegou longe e em 1920 muitos eram os turistas interessados em conhecer esta pesada história. 1996 ficou marcado por um ataque terrível, onde 35 pessoas perderam a vida às mãos de um louco. Port Arthur tem uma herança pesada.    


E assim se passaram 6 dias numa Tasmânia pura, natural, preservada, zelosa do que é seu e com muita qualidade de vida. Um exemplo a seguir!

CSD

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